Crimeia liberta comandante da Marinha ucraniana
Angela Merkel diz que UE está preparada para aprovar sanções económicas à Rússia no caso de um agravamento da crise.
Sergei Gaiduk foi detido por militares – que por não terem distintivos são identificados como forças leais às novas autoridades pró-russas da Crimeia – durante a tomada das bases, onde durante as últimas semanas, viveram cercados algumas centenas de soldados ucranianos. Vestidos à civil, os militares deixaram as bases sem incidentes, mas testemunhas contam que o contra-almirante foi levado pelo que aparentavam ser forças especiais russas. Fontes no local contaram que Gaiduk teria sido detido para responder pela autorização que deu aos homens sob o seu comando para abrirem fogo em caso de tomada das bases.
Ao início da noite, o Presidente interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov, ameaçou tomar “as medidas adequadas” se “o poder autoproclamado da Crimeia” não libertasse Gaiduk e outros dirigentes ucranianos que teriam sido entretanto detidos. Em Moscovo, o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, instruiu também os responsáveis locais a libertarem todos os detidos, o que acabou por acontecer durante a noite.
O pai de um dos detidos, o deputado do parlamento autónomo Anatoli Gritsenko, anunciou que o grupo foi libertado junto à aldeia de Tchongar, num dos postos de controlo criados nos últimos dias entre a Crimeia e o resto da Ucrânia, adianta a AFP.
Em Moscovo, a Duma (Parlamento russo) aprovou esta quinta-feira a anexação da Crimeia pela Federação Russa, com apenas um voto contra do deputado Ilia Ponomarev. O deputado do partido Rússia Justa justificou o sentido do seu voto por considerar a decisão "um grande erro político".
Depois da tomada da Crimeia, as atenções de Kiev viram-se agora para as regiões do Leste do país. A Rússia poderá estar prestes a "iniciar uma intervenção militar a todos os níveis no Leste e no Sul da Ucrânia", afirmou o embaixador ucraniano nas Nações Unidas, Iuri Klimenko.
Na terça-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, assegurou que não tinha intenções de intervir noutras regiões da Ucrânia.
Endurecimento de sanções
Com a tensão ao rubro – se não militar, pelo menos política – desde que Moscovo oficializou a integração da península na federação russa, o Parlamento ucraniano votou nesta quinta-feira uma resolução comprometendo o país a bater-se pela “libertação da Crimeia por mais longa e dolorosa que seja essa batalha”. O diploma, votado por iniciativa de Turchinov, pede também à comunidade internacional “para não reconhecer a dita república da Crimeia e a sua anexação à Rússia”.
A União Europeia, que já se assumiu contra a anexação, volta a debater a crise, na cimeira de chefes de Estado e de Governo que começa nesta quinta-feira em Bruxelas. Horas antes do início do encontro, Merkel anunciou no Parlamento alemão que os Vinte e Oito vão alargar a lista de personalidades russas e ucranianas que serão abrangidas pelas sanções decretadas há duas semanas – a proibição de viajar para a Europa e o congelamento de bens que possam ter no espaço europeu.
A chanceler alemã assegura, no entanto, que “a cimeira europeia vai deixar claro que a UE está pronta para, a qualquer momento, passar à fase três das sanções se houver uma escalada na situação”. Um endurecimento, diz que, “passará sem dúvidas por sanções económicas”.
O plano de sanções acordado pelos Estados-membros dividiu-se em três fases distintas. A primeira envolveu a suspensão das conversações com Moscovo acerca das condições de concessão de vistos e das negociações sobre um acordo de parceria. O segundo nível de sanções foi aplicado na segunda-feira e incluiu o congelamento de bens e o cancelamento de vistos de viagem para uma lista de cidadãos russos. Finalmente, a terceira etapa poderá envolver medidas económicas de impacto global, tais como embargos comerciais, semelhantes às sanções aplicadas ao Irão, em virtude do desenvolvimento de armamento nuclear pela República Islâmica.
Em Bruxelas para a cimeira, o primeiro-ministro interino ucraniano, Arseni Iatseniuk, anunciou que Kiev decidiu “reflectir demoradamente” antes de avançar com a ameaça de introduzir um sistema de vistos para os russos que queiram viajar para a Ucrânia. A proposta tinha sido votada pelo Conselho de Segurança Nacional e de Defesa, mas Iatseniuk diz que “é pouco provável” que a iniciativa tivesse impacto junto de Moscovo mas poderia ter pesadas consequências para os habitantes do Leste e Sul da Ucrânia, com fortes ligações económicas à Rússia e onde há uma significativa percentagem da população de etnia russa.