Morreu Medeiros Ferreira, o lúcido e irónico "senhor Europa"
Militante socialista tinha 72 anos.
José Medeiros Ferreira, historiador, iniciou o seu percurso na oposição estudantil à ditadura, sendo um dos principais dirigentes durante a crise académica de 1962.
Natural de Ponta Delgada, Açores, licenciou-se em História, em Genebra, na Suiça, onde conseguiu o estatuto de exilado político e onde, com outros portugueses, como Eurico de Figueiredo e António Barreto, manteve um activo núcleo político.
A sua intervenção no Congresso de Aveiro, em 1973, que gostava de recordar, definiu, pela primeira vez, aqueles que viriam a ser os objectivos com que o Movimento das Forças Armadas fez a revolução de 25 de Abril de 1974: Democratizar, descolonizar e desenvolver, os célebres "três D".
O seu trajecto político em democracia está ligado à opção europeia, tomada pelo I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, em que Medeiros Ferreira assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros, sendo o mais jovem chefe da diplomacia portuguesa, aos 35 anos. Foi ele quem iniciou o processo de adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), a que Portugal aderiu, formalmente, em 1986.
Integrou, episodicamente, a Aliança Democrática, de Sá Carneiro, e foi fundador do PRD.
No Partido Socialista, de que foi deputado, até 2005, empenhou-se, até ao fim, em algumas das batalhas mais difíceis. A última das quais foi a campanha presidencial de Mário Soares.
Especialista em História Contemporânea, que leccionava na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Medeiros Ferreira mantinha um blogue e era um curioso e empenhado polemista, escrevendo crónicas regularmente, no Diário de Notícias e no Correio da Manhã. A sua fina ironia era a imagem de marca que o tornava num dos mais lúcidos comentadores da actualidade e da história recente de Portugal.
O velório decorrerá esta terça-feira, a partir das 15 horas, no Palácio Galveias, em Lisboa. O funeral será quarta-feira, às 15 horas, no cemitério dos Prazeres.