Estado recomprou apenas 50 milhões de euros de dívida pública
A operação de recompra de Obrigações do Tesouro teve pouca adesão dos investidores.
Numa nota enviada às redacções, Filipe Silva, gestor do mercado de dívida do Banco Carregosa, afirmou que “o montante recomprado é tão pequeno que se torna praticamente irrelevante”. Assim, o objectivo de utilizar capital disponível para poupar nos juros não teve grande efeito. De acordo com este analista, “a maior parte dos investidores preferiu ficar fora deste reembolso antecipado e manter os títulos de dívida, que lhes garante uma taxa cupão de 3,35%”.
Assim, sustenta Filipe Silva, “quem tem dívida portuguesa não está interessado em desfazer-se dela, até porque não tem outras alternativas de investimento mais apelativas. O risco/retorno de Portugal, pelo menos no prazo de ano e meio, continua a ter interesse. O preço a que o Estado recomprou é o preço a que esta dívida está no mercado secundário.” O Estado pagou 104,30 euros por obrigação, a uma taxa cupão de 3,35%.
O IGCP, instituto liderado por João Moreira Rato, encarregue da gestão da dívida pública, tinha 890 milhões disponíveis para esta operação. Ao todo, e tendo em conta que a adesão apenas implicou a recompra de 50 milhões de euros, ficam no mercado 8155 milhões de euros da linha de Obrigações do Tesouro que vencem em Outubro do ano que vem. O IGCP já afirmara que a operação estava sujeita "às condições de mercado".
Para João Moreira Rato, a operação "correu muito bem" porque, defende "mostra a confiança dos investidores, que, nesta fase, só estão prontos a vender a preços que nós consideramos muito elevados". Questionado por jornalistas à margem de um almoço-debate promovido esta terça-feira em Lisboa pela Câmara do Comércio Luso-Francesa, o presidente do IGCP disse ainda, citado pela Lusa, que "o facto de os preços estarem muito elevados mostra o nível de conforto que [os investidores] têm", o que indicia que os mercados acreditam que as obrigações vão valorizar nos próximos tempos.
Esta foi a segunda vez, num curto período de tempo, que o IGCP optou por recomprar dívida no mercado, efectuando o que se apelida de "leilão invertido". A 27 de Fevereiro, utilizando o excedente de tesouraria disponível, que dá uma rentabilidade muito baixa (está parqueado nos cofres do Banco Central Europeu, cujos juro é residual), o IGCP apresentou-se junto dos investidores com o intuito de antecipar o pagamento de duas linhas de obrigações, uma das quais voltou esta manhã a ser alvo do Estado. A 27 de Fevereiro, foram amortizados 1319,8 milhões de euros, ou seja, 8,5% do montante total ligado às duas linhas de Obrigações do Tesouro.
Na quarta-feira, o IGCP vai emitir mais Bilhetes do Tesouro, ou seja, dívida de curto prazo, no âmbito da estratégia de financiamento que tem sido aplicada desde a entrada da troika em Portugal (e que complementa as necessidades do país, além dos 78 mil milhões emprestados pela união Europeia e pelo FMI e dos certificados de aforro e do Tesouro). O objectivo é angariar entre 1000 milhões e 1250 milhões de euros, entre dívida a seis meses e a um ano.
Por outro lado, e tal como já fez este ano e em 2013, o Estado terá de emitir mais dívida de longo prazo, no âmbito do caminho de regresso ao financiamento das contas públicas através dos mercados. Portugal terá de provar que detém a confiança dos investidores, vendendo Obrigações do Tesouro sem o apoio de um sindicato bancário, ao contrário do que fez nas emissões anteriores, a cinco e a dez anos. Nessa altura, ver-se-á o grau de adesão, bem como preço dos juros a pagar.
Esta terça-feira, pelas 18 horas, a taxa a dez anos no mercado secundário (onde investidores negoceiam entre si a dívida) estava nos 4,427%, uma ligeira descida face aos 4,525% de segunda-feira. Já os juros a dois anos estavam nos 1,38% e nos 3,341% a cinco anos, tendo também descido face ao dia de ontem.