Caminha vai valorizar memórias da Pesca do Bacalhau
Autarquia iniciou projecto Viagens à Terra Nova, no âmbito do qual dezenas de pescadores serão entrevistados, para memória futura.
De Caminha foram centenas, muitos deles da vila piscatória que nos últimos dias foi notícia pelo mau tempo, que lhe alterou o curso, e a foz, do rio Âncora. A partir das histórias de vida de muitos destes antigos bacalhoeiros – principalmente dos mais velhos, que trabalham na Frota Branca, na pesca à linha – e das respectivas mulheres, a autarquia pretende valorizar esse legado, cultural e economicamente, por via do turismo. Nesse sentido está a ser estudado um evento cultural e gastronómico, que arrancará já neste Verão, e a possibilidade de criação de um espaço onde este legado possa ser divulgado, revelou o presidente da Câmara, Miguel Alves.
O projecto, que será coordenado por Aurora Rego, da divisão de cultura da autarquia, conta com o apoio da Junta de Vila Praia de Âncora cujo presidente, Carlos Castro, é ele próprio um recolector de memórias e objectos relacionados com a lavoura e a pesca. No sábado, a Câmara de Caminha inaugurou no forte de Vila Praia de Âncora uma exposição que junta fotografias e apetrechos recolhidos por aquele autarca local e imagens cedidas por um empresário canadiano de São João da Terra Nova, Jean Pierre Andrieux, grande cultor da relação entre a sua cidade – famoso porto de abrigo das frotas bacalhoeiras de vários países – e Portugal.
Memorialista, autor de vários livros, entre eles o recente “The White Fleet – A history of Portuguese Handliners”, Andrieux está a organizar uma homenagem aos portugueses que ficaram sepultados em Saint Jones. De visita ao nosso país, o canadiano foi recebido no fim-de-semana em Caminha, município que assim lhe agradeceu este esforço de preservação da memória da passagem dos portugueses por São João da Terra Nova que incluirá a instalação de uma estátua na sepultura de Dionísio Esteves, pescador ancorense que perdeu a vida nos mares da Terra Nova em Maio de 1966, com 26 anos.
Andrieux convidou as autoridades locais, e um emocionado irmão de Dionísio, Fernando Esteves, para ainda este ano, durante o Verão, viajarem até à Terra Nova para essa homenagem que dá um rosto, e um nome, a um conjunto de cruzes cuja identificação se perdeu com o passar dos anos, a neve e um incêndio na igreja onde se encontravam os respectivos registos. Sabe-se qual é a campa de Dionísio porque o seu funeral foi filmado para um documentário canadiano, realizado nesse ano de 1966. E esse filme acabou por ajudar, agora, a resgatar a memória deste pescador e dos portugueses que, em número indeterminado, não chegaram a fazer a viagem de regresso a casa.