O râguebi diferencia-se de muitos desportos através de valores reconhecidos pela sociedade como amizade, solidariedade, “fair-play”, respeito e união. Se analisarmos ao detalhe, pelo excesso de convívio, pela partilha de emoções, pelas dificuldades ultrapassadas em conjunto e pelos desafios, confunde-se facilmente com a perspectiva de familiaridade.
Não deixa de ser menos verdade que as famílias tendem a desculpabilizar e a perdoar com ânimo leve. Nas grandes equipas e na alta competição, o conceito de família passa a não fazer sentido pelo grau de exigência, de competição e de stress.
Nenhum treinador deve preferir ter uma “família” para gerir que no final do dia, qualquer que seja o resultado, revela o mesmo tipo de ambição, aceitando com naturalidade a derrota. De qualquer forma, os jogadores devem estar preparados para perceber o seu espaço no grupo, criar as respectivas amizades consoante a sua personalidade e, com tolerância e respeito, ultrapassar as pequenas divergências, focando-se no sucesso desportivo.
Cada equipa tem o seu ADN, fruto dum misto de culturas e valores diferentes. É natural que um grupo que se conhece melhor e tem laços mais fortes de amizade ajuda a ultrapassar momentos de alta intensidade competitiva mas não é necessariamente sinónimo de sucesso.
Da experiência em equipas como CR Técnico, CRC Madrid, GD Direito ou Caldas RC, uns mais focados na família, outros num misto de competição e amizade, o que importa reter é que no caminho do sucesso desportivo, para as vitórias e títulos, mais que para a família, impõe-se o respeito e integridade perante o grupo, a exigência de resultados e a frontalidade.
Que num ambiente amador, nem sempre o sucesso desportivo é de facto o mais importante, posso concordar. Que o sucesso desportivo muitas vezes anda de mãos dadas com grupos que se encaixam como uma família, não tenho muitas dúvidas. Que numa família por vezes escondemos os problemas e numa grande equipa enfrentam-se sem rodeios, tenho a certeza.