Portugal tenta antecipar reembolso de dívida pela segunda vez este ano
Tesouro lança nova operação de recompra de obrigações do tesouro na próxima terça-feira e, no dia seguinte, emite dívida de curto prazo.
A operação de recompra de dívida é a segunda que o IGCP realiza este ano com o objectivo de antecipar o reembolso de empréstimos, usando para isso o excedente de tesouraria acumulado pelo Estado nos cofres do Banco Central Europeu (BCE).
Como uma espécie de leilão de dívida “invertido”, os investidores apresentam ofertas de preço pelos títulos de dívida portuguesa da linha de obrigações em causa; depois, o IGCP aceita ou não as propostas dos investidores que se mostraram abertos a ver antecipado o pagamento de dívida portuguesa. Foi uma operação com estas características que o IGCP realizou a 27 de Fevereiro, conseguindo amortizar já 1319,8 milhões de euros dos 15.438 milhões de euros em títulos a reembolsar em Outubro deste ano e em Outubro de 2015. Assim, foi antecipado o pagamento de 8,5% desse montante.
Ora, com a operação da próxima semana, o IGCP tenta de novo antecipar em 19 meses o pagamento de uma parte da dívida que vence em Outubro do próximo ano, um dos prazos que também era visado na operação de recompra anterior.
Antes de realizar a operação de recompra em Fevereiro, o Estado tinha para amortizar cerca de 9240 milhões de euros que venciam em Outubro de 2015. Ao conseguir antecipar o pagamento de 1026,6 milhões, esse encargo baixou para cerca de 8200 milhões de euros. A meta da operação da próxima semana é reduzir ainda mais este valor. A agência liderada por João Moreira Rato não traçou, porém, um objectivo para o reembolso antecipado. O montante indicativo da dívida a antecipar está “sujeito às condições de mercado”, fez saber o IGCP numa nota enviada às redacções.
Com estas operações, o IGCP usa parte dos depósitos feitos no BCE, onde o seu rendimento está a render pouco aos cofres do Estado e procura igualmente fazer uma poupança nos juros, já que consegue baixar o montante de dívida a reembolsar.
Ao mesmo tempo, o Tesouro mantém a estratégia de realizar leilões de dívida com maturidade de curto prazo. E é isso que vai fazer no dia seguinte a esta operação. A 19 de Março, o Estado volta ao mercado, com o objectivo de ir buscar entre 1000 milhões de euros e 1250 milhões. Serão emitidos Bilhetes do Tesouro com dois prazos distintos: dívida a seis meses (títulos que vencem em Setembro) e dívida com maturidade de um ano (títulos a reembolsar em Março de 2015).
Para testar o apetite dos investidores nos mercados financeiros, o Tesouro já lançou este ano duas emissões de dívida de longo prazo (Obrigações do Tesouro a cinco e a dez anos). E foi com a ajuda dos montantes conseguidos nas duas operações realizadas com o apoio de um sindicato bancário que o IGCP pôde ir construindo uma “almofada” de tesouraria que permitiu agora ao Estado português poder pensar numa operação para antecipar o pagamento de obrigações. Isto numa altura em que, no mercado secundário de dívida (de revenda de títulos), a pressão dos investidores tem vindo a diminuir. Nesta sexta-feira, as taxas de juro implícitas à dívida a dez anos situavam-se em 4,6%.