No dia 8 de Março, desapareceu um avião. Podia, como tantos outros infelizes casos, ser mais uma aeronave a entrar-nos casa adentro, pela televisão, em forma de estilhaços despenhados no mar ou numa montanha. Mas não. É um avião fantasma que com ele levou 239 almas. Ninguém sabe onde está, ninguém faz ideia se está sequer inteiro.
Como todos os desaparecimentos, o ingrediente “mistério” é o sabor mais presente neste prato. Seja por haver 19 famílias que ainda ouviram sinal de chamada nos telefones dos passageiros, pela elevada improbabilidade de queda de uma aeronave a 35 mil pés de altitude, pelo súbito sumiço do sinal de radar (que só pode ocorrer, desta maneira, se tiver havido explosão ou se alguém o tiver, deliberadamente, desligado) ou seja até pela última mensagem do cockpit minutos antes do desaparecimento: “ok, boa noite”.
O que é certo é que ninguém sabe (ainda) o que raio aconteceu ao voo MH370 da Malaysia Airlines. As hipóteses, essas, multiplicam-se. Quanto mais fundo escavarmos a web, mais loucas são as teorias. Há os simplistas “espetou-se no mar” ou “caiu em terra”, mas existe também a possibilidade de ter sido um atentado terrorista que correu mal ou o suicídio do piloto.
E depois há as conspirações. Vejamos: o Boeing 777 foi interceptado por aliens, uma vez que os sinais de radar revelam a presença de um objecto voador não identificado. Outra: já que há 20 empregados de uma empresa americana que, alegadamente, espia as actividades chinesas online, é muito provável que os serviços de informação da China tenham desviado o voo para capturar os funcionários. Ainda outra: estamos na presença de um novo triângulo das Bermudas, uma área de um electromagnetismo incomum que faz colapsar todos os serviços de navegação de navios e aeronaves – a verdade é que o golfo da Tailândia tem sido palco de vários desaparecimentos nas últimas décadas. Mais uma: o avião foi desviado para o Vietname ou para a Coreia do Norte, à espera de ser utilizado como arma de arremesso contra alvo a definir. Vá lá, só mais esta: existe uma espécie de bomba de hidrogénio controlada por uma aplicação de iPhone que criou um mini buraco negro para onde se escapou o avião. Juro que não estou a gozar, está tudo na net. Mas é lindo, não é?
Ainda que, uma vez por outra, se confirme que são reais (como os casos MK Ultra ou alguns dos pormenores do High Frequency Active Auroral Research Program, ambos levados a cabo pelos EUA), as teorias da conspiração são, de certo modo, um sinal dos tempos. São a prova dada de que o imediatismo e a necessidade de fecho das histórias persistem. Acabou-se o prazer do mistério, está fechado a sete chaves lá longe no passado. Vivemos uma era em que se vê o primeiro e o último minuto do filme de uma assentada, sem provar o sumo do desenrolar da história. E isso, meus amigos, é uma pena, porque se vive à procura do objectivo final sem apreciar a maravilha da viagem.