Árvores milenares ligam ascensão do império mongol a clima do século XIII

A conquista por Gengis Khan dos territórios que viriam a formar um dos maiores impérios da história terá sido em parte possível graças a 15 anos consecutivos de “bom tempo” nas estepes da Ásia Central.

Ainda hoje, cerca de um terço da população da Mongólia é nómada, desloca-se a cavalo e tem um estilo de vida pastoril
Fotogaleria
Ainda hoje, cerca de um terço da população da Mongólia é nómada, desloca-se a cavalo e tem um estilo de vida pastoril Claro Cortes IV/REUTERS
O cientista Neil Pederson recolhe uma amostra de pinheiro da Sibéria na Mongólia Central
Fotogaleria
O cientista Neil Pederson recolhe uma amostra de pinheiro da Sibéria na Mongólia Central Cortesia de Kevin Krajick

“Embora muitos estudos tenham associado a queda de sociedades complexas à deterioração do clima, poucos têm investigado a ligação entre melhorias ambientais (…) e a ascensão dos impérios”, escrevem esta semana Neil Pederson, da Universidade Columbia (EUA) e colegas, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Em finais do século XII, a desorganização e as lutas internas reinavam entre as tribos mongóis. Mas em apenas uns anos, Gengis Khan conseguiu uni-las, formar um exército de guerreiros montados a cavalo e invadir os seus vizinhos em todas as direcções. No século XIII, os filhos e netos de Gengis Khan continuariam a expansão, formando o maior império de sempre em termos da extensão de terras contíguas que abarcava: do Mar do Japão à Europa Central, passando pela China e a Sibéria; e, mais a sul, da Indochina ao Médio Oriente passando pela Pérsia e o subcontinente indiano.

Em 2010, Pederson e Amy Hessl, da Universidade da Virgínia Ocidental, estavam nas montanhas do centro da Mongólia a estudar os fogos selvagens quando deram com uma série de pinheiros da Sibéria a sair das fissuras da rocha, explica a Universidade Columbia em comunicado. E em expedições subsequentes, recolheram amostras dessas árvores, que por vezes tinham mais de 1100 anos, e analisaram os seus anéis de crescimento, que constituem um autêntico registo das condições ambientais, tais como temperatura e pluviosidade, que reinavam quando se formaram. “Este é, tanto quanto sabemos, o primeiro levantamento, feito ano a ano ao longo do último milénio, do balanço hidrológico na estepe asiática”, lê-se na PNAS. Os anéis abrangem um período de 1112 anos, de 900 a 2011.

Os cientistas descobriram então que estas árvores tinham uma surpreendente história para contar. Em particular, os anos de caos político que antecederam a tomada de poder por Gengis Khan, entre 1180 e 1190, foram marcados por secas extremas. Mas depois, de 1211 a 1225, precisamente aquando do início da ascensão do império mongol, a região beneficiou, excepcionalmente, de chuvas abundantes e de um clima temperado. O frio e a seca voltariam a seguir, embora com altos e baixos.

“A transição da seca extrema para a humidade extrema precisamente nessa altura sugere que o clima contribuiu para os acontecimentos humanos”, diz Hessl. “Não foi a única coisa, mas terá certamente criado as condições ideais para a emergência, no meio do caos, de um líder carismático.”

A equipa pensa que esta clemência climática terá feito disparar a proliferação da vegetação na região, permitindo a alimentação de gado e de um grande número de cavalos – ou seja, fornecendo essencialmente aos mongóis os recursos necessários às suas campanhas militares. “Nos locais áridos", diz Hessl, "a humidade inusitada gera uma produção vegetal inusitada e isso traduz-se em cavalos de potência. Gengis Khan consegui, literalmente, cavalgar essa onda” climática.

Os resultados agora publicados contradizem a hipótese, avançada por alguns historiadores, de que a expansão do império mongol teria sido impulsionada, pelo contrário, pela seca extrema que reinava na região, levando Gengis Khan a procurar novos territórios, menos hostis. “Os nossos dados provenientes dos anéis de crescimento mostram agora uma correlação entre a rápida expansão dos mongóis após a sua unificação e condições climáticas favoráveis”, contrapõem os autores.

Os resultados também permitem fazer previsões sobre o clima futuro da Mongólia: secas cada vez mais extremas, Verões cada vez mais quentes e Invernos invulgarmente frios e prolongados, segundo a equipa. “Ainda hoje, muitas pessoas na Mongólia vivem exactamente como os seus antepassados. Mas no futuro, poderão ter de enfrentar condições difíceis”, diz Pederson.
 

   

Sugerir correcção
Comentar