Número de idosos a viverem sozinhos ou isolados aumenta pelo terceiro ano consecutivo
Operação Censos Sénior 2014 realizou-se entre 15 de Janeiro e 15 de Fevereiro e registou quase 34 mil idosos a viverem sozinhos ou isolados, mais 5766 do que em 2013.
Além de Viseu, este ano Beja, Guarda, Évora, Portalegre e Santarém são os outros distritos onde os comandos territoriais da GNR registaram mais de dois mil idosos a viverem sozinhos ou em locais isolados – alguns em situação precária. Nesses casos, são sinalizados os serviços de acção social da Santa Casa da Misericórdia, das câmaras municipais, da Segurança Social ou de instituições de solidariedade social.
Em Évora, o idoso mais isolado vive a 88 quilómetros do posto mais próximo da GNR e o mais velho do distrito é um homem e tem 101 anos, vive sozinho sem telefone. Segundo o major Rogério Copeto, responsável das Relações Públicas do comando territorial de Évora, há neste distrito idosos que vivem "sem qualquer contacto com o mundo exterior" porque não têm telefone ou rede eléctrica para carregar o telemóvel ou pessoas que "ao longo de toda a vida" nunca foram a um centro de saúde ou contactaram com um médico. Mas a maioria tem "autonomia suficiente e saúde para dar conta da sua vida e ficar em casa”, aponta. "Também porque querem. Ir para o lar é o último recurso".
“A realidade para um idoso no Alentejo é muito diferente da de um idoso que viva num prédio num centro urbano”, continua o major Rogério Copeto lembrando o “caso chocante” da senhora de 87 anos, encontrada na sua casa num prédio na Rinchoa, em Sintra, em 2011, nove anos depois de morrer, porque as autoridades, incluindo o comando da GNR, não abriram a porta, apesar de a senhora ter sido dada como desaparecida.
Foi esse caso, diz, que motivou o lançamento da Operação Censos Sénior em 2011, ano em que foram sinalizados 15.596 idosos numa situação ou noutra. No ano seguinte, eram mais sete mil: 23.001 viviam sozinhos ou isolados ou em ambas essas situações. O salto também foi grande de 2012 para 2013: passando para 28.197, ou seja, mais 5196.
A Operação Censos Sénior 2014 mostra também um acréscimo do número de idosos a viverem sozinhos e, ao mesmo tempo, isolados: eram 2177 e são hoje 3026. O envelhecimento da população, nota também o major Paulo Poiares, responsável do gabinete de relações públicas do comando territorial de Lisboa, explica em parte os acréscimos verificados de ano para ano nestas campanhas que visam localizar, proteger e sensibilizar para cuidados de segurança, pessoas com mais de 65 anos. Esta faixa etária representava cerca de 19% dos pouco mais de dez milhões de habitantes em 2011 (de acordo com o Censos 2011) e hoje representa 22%, segundo o major Copeto. No distrito de Évora, a média de idade dos 2650 idosos registados é de 77,5 anos.
Os comandos territoriais têm, todos os anos, tentado alargar a sua acção “a todos os recantos” dos 18 distritos de Portugal continental, o que nem sempre era possível, e o que também explica a progressão dos números entre 2011 e 2014. Mas o que também significa que os 33.963 idosos registados este ano não incluem a totalidade dos que vivem sozinhos ou em sítios isolados do território continental. "A rede de apoio ainda não chega a toda a gente. Um dos grandes objectivos é que ninguém fique de fora", acrescenta o responsável.O outro objectivo, também salientado por Paulo Poiares, é garantir a segurança dos idosos que vivem sozinhos. Por isso, todos são aconselhados a aderirem ao programa "Residência Segura" (para aderir basta registar-se no posto de GNR mais próximo) , para que, na medida do possível, estejam no mapa de acção da GNR para mais fácil localização em caso de ocorrência e emergência. Este ano, aderiram ao programa 13917 pessoas.
"Há idosos a cuidar de idosos"
Entre os que vivem sozinhos ou isolados, no país, foram registados 441 idosos em situação precária por motivos de saúde ou pelas condições da habitação, explica, por seu lado, o major Paulo Poiares. Nesses casos, e quando as pessoas precisam de apoio, são encaminhadas para os serviços sociais das câmaras municipais e outras entidades.
Desses 441, 34 foram localizados este ano no Alentejo, onde os comandos da GNR chegam a encontrar pessoas sem condições para viverem sozinhas, por falta de canalização, esgotos ou luz eléctrica a funcionar. Situações “trágicas” acontecem e há pessoas a morrer sozinhas em casa, embora aqui, e em geral nas zonas mais rurais, seja mais fácil encontrar redes de apoio de vizinhos que se cuidam entre si. "Há idosos a cuidar de idosos", diz. Também há campanhas de empresas, para distribuir telemóveis a pessoas isoladas mas que de tão isoladas, ou não têm cobertura de rede ou rede eléctrica para carregar o telemóvel. No distrito de Évora, 134 pessoas, entre as que vivem sozinhas e isoladas, não têm telefone - o que corresponde a 40% dos idosos nessas situações. Mesmo assim, a maioria pode e prefere ficar em casa. "Abandonadas, as pessoas não estão", diz Rogério Copeto do panorama que se vive no Alentejo. "Ainda há uma realidade muito próxima que faz com que as pessoas não estejam abandonadas".