Quartos de dormir vazios há mais de 10 anos foram de repente invadidos por secretárias, computadores, maquetes e artigos de escritório. A sala de estar de outrora acolhe agora reuniões. Em vez de haver uma só sala comum onde todos trabalham juntos há diferentes aposentos para distribuir as equipas. Assim é projecto Oficina Comum, um espaço de “coworking” localizado numa antiga casa de família em pleno coração do Porto, de frente para o metro do Bolhão.
Catarina Ribeiro e Vitório Leite são dois arquitectos formados no Porto. Depois de um ano e meio no Chile a trabalhar em gabinetes de arquitectura, voltaram para Portugal e decidiram procurar um espaço para montar o seu próprio gabinete e ter uma morada profissional. Apesar de terem visitado alguns espaços de “coworking” no Porto, não ficaram satisfeitos. Precisavam de um local onde não tivessem de partilhar uma mesa com outras 20 pessoas, onde pudessem falar ao telefone sem interrupções, onde pudessem ter uma reunião com clientes sem atropelos.
A fachada do nº 539 da Rua Fernandes Tomás pode passar despercebida a quem passa, mas o interior do edifício foi completamente recuperado, ainda que a configuração inicial das divisões se tenha mantido. Os quartos de dormir mantêm a privacidade, apesar de se terem transformado em gabinetes de trabalho de grupos de designers, arquitectos, músicos e outros empreendedores que precisem de um local de trabalho e de uma morada profissional. A sala, noutros tempos utilizada para ver televisão, serve agora para acolher reuniões dos ocupantes da Oficina. O conceito de “coworking” está presente na Oficina Comum, mas o espaço é único. Numa casa distribuída por três andares com seis gabinetes de trabalho, a cozinha e o pátio são lugares comuns para troca de impressões e de recursos. A cor branca e a luz natural destacam-se no edifício.
"A ideia da Oficina Comum foi criar um espaço de 'coworking', mas que não fosse muito um ambiente muito confuso ou um andar inteiro cheio de pessoas a trabalhar. Cada grupo tem a sua própria sala, podem fechar a sala à chave, trabalhar tranquilamente, no entanto têm espaços comuns, por exemplo: a sala de reuniões, a cozinha e o pátio. Têm na mesma essas mais-valias, a partilha de espaços e de despesas, mas, ao mesmo tempo, consegue criar alguma privacidade e independência em cada espaço." conta Catarina ao P3.
A Oficina Comum abriu portas em Março de 2013. Antes do final das obras, os espaços já estavam todos prometidos. Passado um ano, o cenário mantém-se, e os gabinetes estão todos ocupados, ora com maquetes, ora com mesas de mistura, ora com pincéis e aquarelas. Os gastos em electricidade, Internet e água dividem-se por quem ocupa os espaços, e partilham-se recursos como a sala de reuniões e a cozinha.
Para Vitório, a Oficina Comum tem tido sucesso, mesmo sem grande divulgação. “Nós nem sequer tivemos grande tempo para publicitar, porque estávamos fora. No início, foram os amigos. Depois de termos criado a página no Facebook, são os amigos dos amigos dos amigos que vão vendo, vão gostando e visitando. Nunca fizemos nenhuma publicidade ou anúncio. A divulgação do projecto funcionou através do boca-a-boca. Além disso, a localização é fundamental. Estamos numa zona muito central.”
Por agora, o edifício está completamente ocupado pelo gabinete de arquitectura de Vitório e Catarina, o Mero Oficina, por alguns grupos de arquitectos, uma designer, um músico e um projecto ligado à divulgação de criadores portugueses. No futuro, a Oficina Comum poderá ser adaptada às necessidades de novos ocupantes, seja qual for a área de interesse.