A tentação do trabalho para as estatísticas

Vários deputados apresentaram mais de mil “intervenções” em plenário.

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Segundo a estatística oficial, Diogo Feio fez 1947 “intervenções” Pedro Maia

Vários dos eleitos portugueses adquiriram, por exemplo, o hábito de apresentar minúsculas declarações escritas, para serem incluídas na acta das sessões plenárias, a explicar o sentido do seu voto. Sendo estas declarações de voto contabilizadas pelo PE como “intervenções” nas sessões plenárias, alguns deputados trataram de usar e abusar da possibilidade de dar a ilusão de um trabalho intenso.

É esta contabilidade que explica que, oficialmente, vários deputados apresentem a ficção de mais de mil “intervenções” em plenário: é o caso de Diogo Feio (1947 “intervenções”), João Ferreira (1821) José Manuel Fernandes (1762), Nuno Melo (1744), Maria do Céu Patrão Neves (1743) ou Luís Paulo Alves (1649).

A verdade é que as 56 intervenções feitas durante toda a legislatura por Correia de Campos, as 60 de Capoulas Santos ou as 81 de Elisa Ferreira constituirão, de facto, o número máximo de intervenções reais possíveis.

Igualmente numa lógica de trabalho para as estatísticas, alguns deputados também abusam da possibilidade que lhes é dada de apresentarem questões escritas à Comissão Europeia (o órgão executivo da UE) ou ao Conselho de Ministros dos 28, para obterem algum esclarecimento ou alertar para problemas concretos.

Diogo Feio e Nuno Melo, ambos do CDS-PP, são os campeões de todo o PE nesta área, ocupando o 1.º e o 2.º lugar dos 766 eurodeputados com, respectivamente, 1492 e 1431 perguntas apresentadas, como se estivessem em concorrência um com o outro nesta matéria.

Esta catadupa de perguntas motivou, aliás, um protesto formal da Comissão junto do presidente do PE, Martin Schulz, e um pedido expresso para a criação de regras destinadas a limitar, no futuro, o número de questões que poderão ser apresentadas por cada deputado.
  

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