“Ao passar a fronteira, vimos os militares russos com espingardas e tanques”

David Caiado e Nuno Pinto, dois jogadores que actuam no Travriya Simferopol da Crimeia, tiveram de fugir para a Turquia.

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GENYA SAVILOV/AFP

Tudo se precipitou em poucas horas. “No sábado tivemos a informação por parte dos nossos colegas que a situação se estava a complicar. Tínhamos um jogo amigável marcado para as três da tarde, falámos com o treinador quando faltavam duas horas para que o jogo não se realizasse porque nos estávamos a sentir um bocado inseguros. Fizemos o jogo e estávamos a tomar banho quando o adjunto entrou no nosso quarto a dizer para prepararmos as coisas, que iríamos apanhar o autocarro para o aeroporto, para irmos para a Turquia”, recorda ao PÚBLICO por telefone a partir de um hotel na Turquia David Caiado, que, tal como Nuno Pinto, estava a viver no centro de estágio do Tavriya, a cerca de 20 minutos de viagem de Simferopol.

A viagem de avião com destino a Istambul só aconteceu no domingo porque antes tiveram de fazer uma viagem de autocarro de mais de dez horas para chegar ao aeroporto de Donetsk. Os dois jogadores portugueses dizem que a viagem foi tranquila, mas com alguns sobressaltos no momento em que estavam a sair da Crimeia. “O aeroporto estava fechado e tivemos de seguir para Donetsk. Ao passar a fronteira da Crimeia, vimos os militares russos de cara tapada, com tanques e espingardas. Mandaram parar o autocarro, perguntaram se quem estava no autocarro estava com eles, o motorista respondeu-lhes, mas não sei o que lhes disse, os militares abanaram a cabeça e seguimos viagem”, conta Nuno Pinto, um defesa-esquerdo de 27 anos que chegou a passar pelo Boavista e pelo Nacional da Madeira.

Tanto David Caiado como Nuno Pinto estavam a dar os primeiros passos na liga ucraniana, depois de ambos terem estado na Bulgária. Tinham sido contratados pelo Tavriya, o primeiro campeão ucraniano em 1992, após a desintegração da URSS,  durante a pausa do campeonato para tentar ajudar a equipa a elevar-se no campeonato (onde são penúltimos) e ainda não se tinham estreado oficialmente. E as indicações que tinham do clube eram boas. “O que me passavam era que o clube era bom e que tinha boas condições, ninguém ia adivinhar que isto ia acontecer”, diz Nuno Pinto. Para David Caiado, mesmo sendo no penúltimo classificado, jogar na Ucrânia era uma oportunidade que não podia perder. “A Liga ucraniana tem um nível alto e para mim foi um bom passo”, conta este avançado de 26 anos que fez praticamente toda a sua formação no Sporting.

E as primeiras impressões da cidade até estavam a ser boas, apesar de não viverem lá e, acrescentam, tinha tudo para poderem viver lá com a família num futuro próximo. “Receberam-nos muito bem, fomos bem acolhidos”, garante Nuno Pinto, que assinou por dois anos e meio. “Gostei bastante da cidade, é uma cidade antiga, bastante grande, boas condições. É uma cidade onde me adaptaria perfeitamente a viver com a minha família”, acrescenta Caiado, cujo contrato é de uma época e meia.

Mas com a situação actual, voltar à Crimeia não é um dado adquirido para estes dois portugueses. E ainda não há uma data definida para o regresso, mas a segurança estará sempre primeiro, como diz David Caiado: “Nesta altura temos de pensar no dia-a-dia. Temos de ver como a situação se vai resolver, melhorando e tudo voltando ao normal, óbvio que quero voltar.”

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