Numa altura em que tanto se fala do bullying, e em que o debate sobre a praxe voltou à ordem do dia, a primeira obra do cazaque Emir Baigazin pega no tema e faz dele o pretexto para um exercício de formalismo surreal sobre as experiências de um miúdo introvertido, perseguido num liceu rural do Cazaquistão. Lições de Harmonia foi revelado no concurso de Berlim 2013, onde a precisão estética e a segurança formal de Baigazin, realizador, argumentista e montador do filme, conquistaram muita crítica internacional - não é de facto muito normal descobrir um cineasta estreante com um tal controlo de forma e ambiente. Mas esse virtuosismo técnico contribui também para um distanciamento frio e gélido que sublinha a dimensão desconfortável, alienígena deste ensaio sobre a crueldade que faz do liceu uma espécie de antecâmara do inferno e pode até ser lido, à medida que a perseguição a Aslan ganha contornos quase sádicos, como uma alegoria sobre as relações entre as antigas repúblicas da URSS. Ao mesmo tempo, Baigazin corre o risco de tornar Lições de Harmonia num objecto estanque, uma experiência científica que elimina toda e qualquer humanidade em nome de uma curiosidade mais entomológica do que sensorial - é filme cuja técnica se admira mas com o qual dificilmente se consegue empatia. Suficiente para deixar o nome de Emir Baigazin na lista dos novatos a seguir, insuficiente para recomendar sem reservas.
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