Obesidade desceu entre as crianças mais pequenas nos EUA, mas será uma tendência?

Novo estudo mostra que a obesidade se mantém alta no conjunto da população mas diminuiu de forma significativa entre os dois e os cinco anos.

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Estudos mostram que um excesso de peso até aos cinco anos multiplica por cinco o risco de obesidade em adulto Adriano Miranda

Os números da restante população são muito menos animadores, mas no meio das más notícias salvou-se um indicador "excitante", frisou a investigadora Cynthia Ogden, uma das responsáveis pelo estudo da autoridade norte-americana de controlo e prevenção de doenças (o Centers for Disease Control and Prevention, ou CDC). "É a primeira vez que vemos alguma indicação de uma diminuição significativa em qualquer grupo", disse a epidemiologista num comentário aos resultados do estudo.

Pode ser a excepção à regra, mas é uma excepção muito importante, já que os especialistas consideram que a obesidade entre os dois e os cinco anos de idade multiplica por cinco o risco de obesidade na idade adulta. Por esta razão – e também devido à falta de boas notícias no resto dos grupos analisados, que ou mantiveram os valores ou registaram subidas –, a forma como a notícia chegou a alguns jornais americanos foi também ela excitante: "Taxa de obesidade entre as crianças mais jovens cai a pique numa década", titulou o The New York Times.

Numa declaração incluída no comunicado do CDC, Michelle Obama, mulher do Presidente e principal rosto da campanha contra a obesidade nos EUA, mostrou-se "entusiasmada com os progressos feitos nos anos mais recentes em relação às taxas de obesidade entre os americanos mais jovens".

Mas as conclusões finais do estudo – e o cepticismo de especialistas em combate à obesidade que não participaram nele – traçam um cenário mais cauteloso: "Em termos gerais, não houve mudanças significativas na prevalência da obesidade em jovens ou adultos entre 2003-2004 e 2011-2012. A prevalência da obesidade mantém-se alta e, por isso, é importante manter a vigilância", resumem os autores do estudo.

Um dos primeiros investigadores a pôr em causa os adjectivos usados para qualificar a boa notícia que é a diminuição da taxa de obesidade entre os mais novos foi Michael Goran, professor de Pediatria na Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Sul e director do Centro de Investigação sobre Obesidade Infantil na mesma instituição. Pouco depois de o director do CDC, Tom Friedan, ter usado o Twiter para descrever os resultados como "progressos encorajadores", Goran respondia: "Um exemplo de informação tendenciosa – o efeito quase não tem significado [e verifica-se] apenas em raparigas."

Numa troca de emails com o PÚBLICO, Michael Goran mostrou-se "preocupado com a possibilidade de o exagero na análise dos resultados criar a falsa impressão de um enorme declínio [na obesidade] entre os dois e os cinco anos, quando na verdade pode resultar de uma manipulação da amostra ou de uma anomalia estatística".

Se é verdade que o estudo revela uma diminuição de 14% em 2003-2004 para 8% em 2011-2012, também é verdade – frisa o professor norte-americano – que essa diminuição "não foi significativa entre os rapazes e foi pouco significativa entre as raparigas". Ou seja, as raparigas foram responsáveis pela maior parte dos 43% de redução mas, ainda assim, muitas delas não registaram uma perda de peso significativa. Para além disso, "havia menos de 50 raparigas obesas na amostra entre os dois e os cinco anos de idade, por isso esta tendência baseia-se numa amostra muito pequena, que pode ou não ser representativa da população", disse Michael Goran ao PÚBLICO.

Apesar do cepticismo, os números do CDC parecem confirmar uma tendência registada nos últimos anos em pelo menos 18 estados norte-americanos, embora nestes casos as crianças que participaram nos estudos estejam incluídas no programa federal Women, Infants and Children, que desde 2009 tem facilitado o acesso das crianças de famílias mais pobres a uma alimentação mais saudável.

Outros especialistas alertam para a flutuação dos valores na faixa etária em análise ao longo da última década, para dizerem que é preciso esperar algum tempo para se perceber se as taxas de obesidade estão realmente a descer. Por exemplo, os números encolheram de 14% em 2003-2004 para 10% em 2007-2008 e voltaram a subir para 12% em 2009-2010, antes de descerem novamente, para 8%, em 2011-2012.

Este misto de excitação e cepticismo levou o director do Centro de Investigação em Actividade Física da Universidade de Pittsburgh, John Jakicic, a posicionar-se a meio da discussão, em declarações à agência Associated Press. Se, por um lado, é preciso "esperar mais tempo" para saber se se está perante uma tendência de descida, por outro lado é bom sinal "que as coisas não estejam piores".

A comparação do CDC entre 2003-2004 e 2011-2012 registou também um "aumento significativo" das taxas de obesidade entre os maiores de 60 anos (de 31,5% para 38,1%) e não registou grandes variações em relação às restantes faixas etárias analisadas – 16,9% dos jovens entre os dois e os 19 anos de idade são obesos, um problema que afecta 34,9% da população com mais de 20 anos.

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