Morais Sarmento demarca-se dos críticos ausentes e defende “mais política e mais pessoas”

Antigo ministro de Durão Barroso defende no congresso do PSD que os portugueses precisam de voltar a sonhar.

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“Em 2014 é hora de dizer aos portugueses como vamos viver. Esta é uma obrigação que é nossa. Uma parte da realidade dura que vivemos vai ter de continuar. Mas os portugueses perceberam que outra parte da realidade vai ser diferente. É essa janela que é a esperança dos portugueses. Temos de responder e ir mais longe do que a moção de estratégia global [de Passos Coelho]”, afirmou o ex-ministro do Governo de Durão Barroso. Uma estratégia que tem um princípio: “Tem que ter mais política e mais pessoas”.

Lembrando a social-democracia, Morais Sarmento mostrou-se contra uma mensagem só com teor estatístico e defendeu que os portugueses precisam de sonhar de novo. “Chegámos aqui com folhas Excel do Ministério das Finanças, mas nós somos sociais-democratas. Não são as estatísticas que estimulam os portugueses, são as ideias e ideais. As pessoas movem-se por projectos, por sonhos, pela dimensão não económica e política. E nós precisamos todos de voltar a sonhar”, afirmou perante uma sala que secencheu para o ouvir em silêncio.

Como comentador político que tem feito duras críticas ao Executivo de Passos Coelho,  Morais Sarmento respondeu aos que criticaram os sociais-democratas que aparecem nas televisões a contestar o Governo, comentando que a obrigação é assumir isso no palco do PSD. “Defendi sempre que o essencial da militância seja feita lá fora. Seja num jornal ou numa televisão, na profissão que exercemos ou quando somos chamados a participar no Governo de Portugal. (…) Se falarmos fora, temos a obrigação de falar e dizer aqui, no PSD”, afirmou, acrescentando que esta é uma obrigação que cumpre “sozinho e livre”. Reiterando que fala com “total liberdade e autonomia”, o antigo ministro da Presidência do Conselho de Ministros lembrou o momento em que Passos Coelho foi excluído das listas candidatas a deputados (por Manuela Ferreira Leite) em 2009: “Quando nesse conselho nacional me insurgi contra essa exclusão, (…) não recordo nenhum dos zelotas do templo que agora se arvoram em seus guardiões”.

Sem confundir “independência” com “dissidência”, Morais Sarmento prestou homenagem ao chefe de Governo. “A primeira razão para eu estar aqui como militante e português é para manifestar agradecimento para quem liderou este caminho de um país encontrado à beira da bancarrota. Esse foi o caminho percorrido que a História vai registar. E essa liderança teve um único nome: Pedro Passos Coelho”, afirmou o social-democrata que é apoiante de Durão Barroso, elogiando ainda a “temperança” do líder do PSD na gestão da crise política de Julho de 2013.

O antigo ministro criticou ainda o PS “por não se ter colocado” num plano construtivo desde 2011. E gracejou a propósito de António José Seguro: “Faz-me lembrar aquelas telenovelas que podemos estar três ou quatro semanas sem ver que, quando voltamos, temos a certeza que estamos na mesma”. Uma “tradição” que já vem de José Sócrates, afirmou, concluindo que o ex-primeiro-ministro, “dois anos depois, continua no mesmo ponto: que o [seu] Governo fez tudo bem para acabar tudo mal e que este Governo fez tudo mal, apesar de Portugal estar a perceber que as coisas estão correr bem”.

Sobre o caminho a percorrer, no pós-troika, Morais Sarmento constatou que “a situação da esmagadora maioria das pessoas não é melhor”, mas que se deve explicar que “os sacrifícios valeram a pena”. E acabou a intervenção assumindo que está disponível para esse combate: “Como dizia ontem Pedro Passos Coelho, estamos melhor, porque Portugal está melhor. Para esse combate digo 'presente'”.

Ambição das legislativas

Pouco depois de Morais Sarmento, Luís Montenegro apontou ainda mais para a frente: “Temos o direito e a ambição de vencer as próximas eleições legislativas”.

“Está nas nossas mãos, porque nós governamos melhor Portugal que o PS”, afirmou o líder parlamentar do PSD, retomando o mote que Passos Coelho dera na véspera ao afirmar que “Portugal está hoje melhor do que há três anos”. E se a percepção geral ainda não é essa, diz Montenegro, tal deve-se ao “desfasamento entre o retomar da economia e o que sentem aqueles que sentiram” a austeridade na pele.

Luís Montenegro afinou também pela grande linha de comunicação deste congresso ao reafirmar que “não há um exemplo de que o PSD se tenha afastado da sua matriz social-democrata. Pelo contrário, afirmou, ilustrando com algumas medidas. “Alguém fala em neoliberalismo quando baixamos os preços dos medicamentos baixando as margens das farmacêuticas? Alguém ignora a sobretaxa que as empresas com lucros acima de um milhão de euros têm uma sobretaxa de 3% de IRC?”

O líder parlamentar lembrou depois que, tanto Manuela Ferreira Leite como Pedro Passos Coelho, viabilizaram os orçamentos do último Governo de Sócrates. Para repisar noutra das tónicas deste congresso: o desafio à convergência com o principal partido da oposição.

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