Entre as críticas dos senadores a Passos Coelho, também se vislumbra um elogio
Manuela Ferreira Leite, Rui Rio e Pacheco Pereira não irão ao conclave social-democrata, mas no espaço mediático têm dito o que pensam.
Rui Rio, “à espera”
Quem o visse naquela semana louca de Dezembro, em que participou em debates patrocinados por Pacheco Pereira, pela Associação 25 de Abril e por Mário Soares, ninguém diria que Rui Rio, que acabava de sair da Câmara do Porto com uma 4.ª vitória eleitoral consecutiva – o triunfo de Rui Moreira sobre Luís Filipe Menezes –, não seria, por esta altura, um dos protagonistas do debate político. Mas já então Rio dizia que não pretendia fazer oposição a Passos Coelho nem ir a este congresso, por não estar “para aí virado”. Nos últimos meses de mandato autárquico criticou duramente a liderança do PSD pela indigitação de Menezes como candidato ao Porto e por o Governo ter posto em causa as contas da sociedade Porto Vivo (SRU). Ou seja, “quando os interesses do Porto estiveram em causa”, sublinhou. Recusou o convite do Governo para liderar o Banco de Fomento e mantém-se fiel aos temas de sempre: a falta de qualidade da classe política, o poder exagerado da comunicação social, a inépcia da Justiça e a necessidade de um pacto de regime. Rio não ignora que muitos olham para si como uma reserva e que apostam no bom entendimento que mantém com António Costa. Mas avisou que só irá a jogo em condições excepcionais e se for chamado em termos que não lhe admitam recusa. Ainda não se ouviu o clamor.
Ferreira Leite, “a adversária”
Manuela Ferreira Leite não vai ao congresso nem pretende sequer falar - por ora - sobre o conclave do partido que liderou entre 2008 e 2010. A verdade é que as suas opiniões sobre o rumo que o Governo de Passos Coelho deu ao país já são bem conhecidas. Nas tribunas que tem à sua disposição, a antiga ministra das Finanças tem deixado bem claro o que acha das políticas do Governo. Mal, muito mal.
Ferreira Leite não tem feito ataques pessoais a Passos Coelho, o seu grande antagonista que derrotou nas “directas” para a liderança em 2008 e que excluiu das listas de candidatos a deputados nas legislativas seguintes. Passos castigou-a em 2010, com mel e veneno: convidou-a para ser a cabeça de lista do PSD por Lisboa, nas legislativas que recolocaram o PSD no Governo. Ela recusou. De lá para cá, não é fácil de explicar em que é Ferreira Leite divergiu do Governo e da liderança do PSD, porque foi praticamente em tudo. Criticou a expulsão de António Capucho, a nova lei dos despedimentos e a hipótese admitida pelo primeiro-ministro de “saída limpa” do programa de assistência financeira, advertindo que “fazer essa flor política” pode custar 25 vezes mais caro do que um programa cautelar. Há muito que afirma que o Governo e a troika aplicaram uma receita desastrosa e que os sacrifícios pedidos a pensionistas e funcionários públicos foram “imorais”. A antiga líder social-democrata chegou a desafiar os deputados do partido a votarem contra as propostas de Orçamento de Estado e admitiu juntar-se à manifestação contra o Governo, em Setembro de 2012.
Sobre o Tribunal Constitucional disse: “Ajudou-nos a não nos afundarmos tanto”.
Jardim, “o desmotivado”
O líder dos sociais-democratas madeirenses não participará no congresso. “Se se recordar dos tempos em que o senhor primeiro-ministro era presidente da JSD, nós nunca jogamos muito juntos”, frisa Jardim. Mandatário da recandidatura de Passos à liderança do PSD em 2012, Jardim demarca-se da direcção nacional do partido. “Este não é o PSD onde eu nasci para a política, nem é o PSD que coincide com os meus princípios e valores. É um PSD diferente, não há o entusiasmo que noutros tempos havia ”. Aliás, ao contrário dos Açores, o PSD-Madeira não apresenta qualquer moção temática ao congresso. “Não há moção daqui, eles lá sabem o que é que a gente pensa disto“, comentou. E acrescentou: “O actual esquema que é utilizado para os congressos, que é o de apenas poder haver uma moção de política geral, apresentada por aquele que foi eleito líder do partido, sendo as outras consideradas sectoriais, retirou muita motivação”.
Jardim tem vindo a criticar o Governo, nomeadamente os cortes nas reformas e salários dos funcionários públicos. “Moral da história ou imoralidade: põe-se sempre os mesmos a pagar. É profundamente injusto, não é um governo que eu possa apoiar”.
Pacheco Pereira, “o camarada”
Não tem sido por acaso que os partidos da oposição não se cansam de citar Pacheco Pereira. É uma forma eficaz de criticar o Governo. O sim ao convite de Mário Soares para dirigir uma mensagem à plateia da Aula Magna em defesa da Constituição já era significativo. O histórico socialista até lhe chamou “camarada”. A verdade é que Pacheco tem feito uma razia a Passos Coelho e ao seu Governo. Um dos seus textos mais violentos intitula-se “Guerra aos velhos”. Criticou cortes nas reformas, pensões e direitos adquiridos. Para o historiador, o executivo quis ir além da troika e fazer uma “revolução nos comportamentos gastadores dos portugueses”. O projecto deste Governo, alertou ao longo de meses, é uma “refundação estrutural do Estado e da economia portuguesa”. Mas as críticas de Pacheco também têm sido dirigidas ao líder do PS. Sobre o seu secretário-geral foi sucinto: “Seguro é o melhor seguro do Governo”. São, na verdade, críticas ao que considera uma geração de “jotas” à frente do país. Pacheco diz que a esquerda e a direita entretêm-se a adivinhar-lhe a ideologia. Para a esquerda é de direita e o inverso. Mas afinal é mais simples do que parece: “Porquê? Porque percebem que eu quero ver este governo na rua, e eles também, e que não sou manso nessa vontade”.
Santana Lopes, “sem birras”
Pedro Santana Lopes tem feito vários pedidos de compromisso entre os partidos de Governo e o PS. Já este ano, o ex-primeiro-ministro considerou que era pouco provável Portugal avançar para um programa cautelar e defendeu que é um “imperativo patriótico” que Passos, Portas e Seguro se sentem à mesa para discutir a saída do programa da troika. Sem “birras”. Com alguma distância dos holofotes, mas com colunas de opinião na imprensa, vai respondendo aos críticos, como Marcelo Rebelo de Sousa. Sobre o congresso, felicitou Passos e disse esperar que seja reeleito em 2015. Santana tem aliás sido politicamente simpático com Passos e o Governo, distribuindo elogios a Maria Luís Albuquerque ou Pires de Lima. Mas também criticou o PSD depois das autárquicas. Referiu-se à derrota eleitoral como um “desbaratar de património”. Sem deixar grandes pistas sobre o seu futuro político, o actual provedor da Santa Casa da Misericórdia já declarou ser favorável à ideia de Marcelo Rebelo de Sousa de um só mandato presidencial, mas mais longo. Sobre as presidenciais disse que “antes das pessoas”, se devem discutir as ideias.