Foi um pintor considerado menor na galáxia do expressionismo abstracto, mas chamou-se Robert De Niro Sr. Isso basta para que o nome encabece o título de um filme, Remembering the artist Robert De Niro Sr., que atraiu as atenções no Festival de Sundance e, a partir daí, o interesse da cadeia HBO, que adquiriu os direitos da sua transmissão — vai ser em Junho. É o documentário com que Robert De Niro, o actor/realizador, homenageia o seu pai e a sua vida turbulenta — através das paisagens que pintou e do diário íntimo de um homem que se divorciou da mulher quando deixou de poder contornar a sua homossexualidade. Tendo em conta o habitual fechamento de Robert De Niro sobre a sua vida privada e familiar, e as raras concessões que faz em termos de entrevistas, por exemplo, mais surpreendentes se tornam estes 40 minutos em que aquele que foi actor-fétiche do cinema de Scorsese e uma das presenças mais danadas do cinema americano dos anos 70 abre ao mundo uma parte do seu mundo.
Isto é, a vida do seu pai, inserindo a intimidade num background histórico: os anos 50, os primeiros trabalhos (a mão que lhe deu Peggy Guggenheim, abrindo-lhe as portas da galeria nova-iorquina Art of this century), a gravitação na órbita de Willem de Kooning e do casal Jackson Pollock/Lee Krasner, já a sua condição de outsider, uma vez que a sua aproximação figurativa não encaixava no gosto do dia, e desde aí, também, a sua vida sentimental frustrada. Os pais de Robert De Niro separaram-se em 1943, um ano depois do casamento e meses depois do nascimento do filho: difícil aceitação da homossexualidade, desgostos, amores dilacerantes, episódios de depressão; e sempre a frustração pela falta de reconhecimento da obra. De Niro Sr. morreu de cancro em 1993: tinha 71 anos e era um homem acabrunhado. “Fiz tudo isto por ele”, disse em Sundance o filho. “Queria que os meus filhos mais pequenos, os que nasceram depois da morte do avô, soubessem quem foi o meu pai, o que fez e o que representou para a história da arte.” Um Bairro em Nova Iorque (1993), filme com que Robert De Niro se estreou como realizador, já fora dedicado ao pai, figura que esteve ausente da sua infância e adolescência mas com quem se reencontrou na idade adulta. Kenneth Turan, do Los Angeles Times, escreveu a propósito do novo documentário que “poucas vezes se viram momentos tão íntimos e tão bonitos por parte de um actor premiado pela Academia de Hollywood”. Merle Ginsberg, no The Hollywood Reporter, fala em “entusiasmo, curiosidade e surpresa” perante o que viu. Em 2007, no âmbito do Lisbon Village Festival, Robert Jr. esteve em Lisboa para apresentar uma exposição sobre Robert Sr.