Agora que já parámos de brincar aos referendos, podemos falar um bocadinho a sério? De pessoas para pessoas? Escusado será dizer que não é permitida a entrada a quem resolveu inventar isso da homossexualidade. Afinal, expliquem-me: é o quê, isso? É que eu já dei voltas e voltas à cabeça e não consigo mesmo perceber o que significam esses rótulos que se colam na testa das pessoas com base no amor que sentem uns pelos outros.
Há uns tempos falava com uma amiga que me contou que foi uma das primeiras crianças a pisar o gelado chão do tribunal graças a essas mesmas gavetas onde andamos a enfiar as pessoas sem motivo algum. Contou-me que cresceu num lar (que é bem diferente de casa, entenda-se) onde moravam duas pessoas do sexo feminino. “Nunca percebi que havia algo estranho, fui uma criança imensamente feliz. Nem nunca as vi beijarem-se, para mim existia a minha mãe e a companheira da mãe, e eu era tão amada por ambas que nem me passava pela cabeça questionar o que quer que fosse.”
O pai, por sua vez, nunca a quis admitir, já que ela era fruto de um caso que ocorrera fora do casamento tão-bem-aprovado-e-jamais-referenciável heterossexual. Contou-me que quando o viu pela primeira vez em tribunal, se sentou ao seu lado e constatou como ele era grande, alto e forte. Mais ou menos como um pai deve ser. Só que neste caso o pai não estava muito interessado em emprestar-lhe o apelido ou deixar uma moedinha para a sua educação.
O mais bonito desta conversa foi sentir que os valores e os princípios que lhe haviam sido transmitidos em criança são hoje de tal forma indestrutíveis que não era necessário que ela verbalizasse esta realidade, já que a serenidade e a maturidade com que falava comigo o deixavam a descoberto. “Aprendi muito a ouvir-me a mim própria. Sobretudo a mim própria.”.
Nós é que deixámos de fazer isso, não foi? Damos nomes às doenças, constatamos as diferenças de tons de pele e as alterações genéticas e/ou físicas que temos. Existem os brancos e os pretos. Os manetas e os carecas. Os gordos, os altos, os australianos, os gregos e os troianos. Mas, a sério: um homossexual, é o quê? Tem menos um braço do que eu, nasceu com dois dedos mindinhos em cada pé...? Somos feitos de quê, afinal? Cabeça, tronco e membros... genitais? Escolhemos amar alguém e o lado para onde pende o coração passa a funcionar como um bilhete de livre acesso à sociedade que se diverte a fazer malabarismo com aqueles que são os nossos direitos fundamentais? E se amanhã acordares e te sentires atraído por alguém do mesmo sexo que tu? O que é que vai acontecer ao certo, nesse momento, para que deixes de ter os mesmos direitos que tinhas na noite anterior?
Não entendo e não consigo entender o que é isso de se ser homossexual. Quero lá saber quem amas. Quero é saber como amas.
Posto isto, quem alinha em referendar a palavra homossexualidade?