Archilapse: assistir ao tempo a passar num edifício
Novo projecto de vídeo que usa a técnica do "time lapse" quer tornar-se numa forma de divulgar a arquitectura através da passagem do tempo e da luz
Ricardo Oliveira Alves juntou a arquitectura à técnica do “time lapse” e acaba de criar um novo projecto online. O Archilapse mostra a forma como o tempo passa pelos edifícios, centrando-se na luz e na sombra, nos ângulos mais improváveis. “Acaba por ser o princípio da animação: ‘frames’ colados em forma de filme que criam um movimento de forma particular”, descreve ao P3.
Tira centenas de fotografias, de 30 em 30 segundos ou de minuto a minuto, desde o amanhecer até ao pôr do sol, para não perder nenhum dos momentos de um dia. “Quando o ‘time lapse’ é montado, há uma aceleração do tempo”, explica. Porquê o ‘time lapse’? “Porque nós sentimos o tempo a passar, pelas mudanças na luz, mas não conseguimos seguir esse movimento a olho nu. Acho interessante que se consiga ver quatro horas em apenas 30 segundos, por exemplo”, justifica o arquitecto de 36 anos. Perceber a alteração do espaço conforme a alteração da luz é “muito interessante”.
“Todos os projectos arquitectónicos têm uma vida própria. O Archilapse permite percepcioná-los como um todo através de um registo dinâmico e interactivo, capturando-os de uma forma que nem sempre é possível de transmitir apenas pela fotografia”, sublinha o jovem.
Depois da Casa das Histórias — Museu Paula Rego, de Eduardo Souto de Moura, Ricardo dedicou-se à Fragrante House, a “casa patrocínio” do atelier Rebelo de Andrade, vencedor de um prémio ArchDaily pelo projecto Tree Snake Houses.
A ideia é receber encomendas de gabinetes de arquitectura ou promotores imobiliários. Para isso criou duas versões dos vídeos: a “standard”, onde se vê o tempo a passar, simplesmente; e a “architect’s cut”, intercalando essas imagens com entrevista ao arquitecto.
Ricardo é mais um dos muitos arquitectos que já não projectam edifícios (fê-lo durante dez anos), sem nunca sair completamente da área. Hoje, além de fazer fotografia de arquitectura, trabalha ainda em música e é um dos fundadores do projecto YouCook, com vídeos de receitas simples online. Regressar a um gabinete “está fora de questão”, pelo menos neste momento; para o fazer teria de integrar uma “equipa fantástica” e, sobretudo, “ter clientes”.
À pergunta “Que edifícios mais gostarias de fotografar e filmar?”, Ricardo não tem dúvidas. “Em Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian: é um dos mais emblemáticos edifícios do ponto de vista da arquitectura. No resto do mundo, adoraria fazer um ‘time lapse’ com a obra do Oscar Niemeyer.”