Paolo Sorrentino não tem medo do ridículo e isso é uma mais-valia nestes dias em que o cinema italiano parece maioritariamente encerrado numa “linha branca” de anonimato funcional; A Grande Beleza invoca, obviamente e com requintes de malvadez, a Dolce Vita de Fellini para nos dizer que, na verdade, essa Roma diletante já não existe, substituída por um ersatz fútil, ostensivo e novo-rico. Que A Grande Beleza seja um filme ostensivo e novo-rico sobre uma sociedade ostensiva e nova-rica não é casual; é um gémeo invertido, grotesco e virtuoso, do Reality de Matteo Garrone (Garrone que, com Sorrentino e Luca Guadagnino, compõe uma trindade geracional que recusa a essa “linha branca”), que fala não da Itália que ainda está na nossa cabeça mas sim da Itália como ela é. É por isso, mas também pela interpretação notável de Toni Servillo (cujo Jep Gambardella invoca a espaços o Cavaliere Berlusconi), que perdoamos a Sorrentino os excessos formalistas e os trambolhões no ridículo.
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