Dar atenção aos alicerces

Para que Portugal se transforme, em 10 anos, num país com presença regular em Mundiais, é necessário apostar na área do desenvolvimento

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Pedro Gomes

Foi em 2005 que o râguebi juvenil em Portugal começou a mudar.

Com a entrada de uma nova direcção e de um novo director técnico regional para a Associação de Rugby do Sul, iniciou-se um processo que revolucionou, verdadeiramente o râguebi juvenil no nosso país.

Esta equipa, liderada pelo carismático presidente Manuel Paisana, teve o grande mérito de partir do que existia à data (um conjunto de convívios pouco regulares), e da boa imagem e bons resultados que a selecção estava a começar a obter (recorde-se que a selecção nacional ganhou, em 2004, o Torneio Europeu das Nações) para começar a moldar o que é actualmente o râguebi juvenil.

Foram, nesses anos, criados os primeiros grandes convívios de apoio à selecção nacional (lembro-me, no Portugal-Roménia. em 2007, de pela primeira vez um convívio ter mais de 1000 jogadores), foram criados os Torneios de Inverno, Primavera e AR Sevens para os Iniciados - agora Sub 14 -, os Estágios de Aperfeiçoamento Técnico, o Projecto NESTUM Rugby (que começou como “Escolas do Meu Clube”).

Mas esta “onda do râguebi juvenil” não se ficou apenas pelo Sul do país. No Norte, a Associação de Rugby do Norte, liderada pelo Gonçalo Borges reorganizou-se, focando a sua actividade essencialmente nos escalões mais novos, enquanto o Comité de Rugby do Centro aproveitava a entrada do Tiago Gonçalves para seguir as mesmas pisadas.

O râguebi juvenil era, então, uma área forte e dinâmica da modalidade em Portugal. Um grande número de jogadores que vemos, hoje em dia, nas equipas seniores dos clubes e das selecções nacionais, passou por algumas destas actividades. E se muito foi feito, nessa altura, nesta área tão importante do râguebi do pais, os desafios, agora, são ainda maiores e o râguebi português não pode parar de trabalhar e inovar.

Qualquer estratégia definida para que Portugal se transforme, em 10 anos, num país com presença regular em Campeonatos do Mundo, tem de ter no desenvolvimento uma área de actuação prioritária.

Investir agora, é a única forma de ter frutos no futuro.

E os desafios são imensos!

É necessário captar os antigos jogadores do nosso râguebi, criando condições para que se mantenham envolvidos nos seus clubes. Pelo seu exemplo de paixão e trabalho desinteressado, eles formarão jogadores apaixonados e comprometidos com o jogo.

Desenvolver e implementar um plano de identificação e detecção de jogadores com características definidas como prioritárias para o râguebi português.

Criar um programa de apoio técnico regular aos clubes, em várias áreas (organização do clube; área técnica; captação de jogadores, etc) de acordo com as necessidades específicas de cada um de forma a potenciar o nível da formação de cada jogador.

No râguebi escolar, a continuação do programa de Tag Rugby para divulgação da modalidade (agora órfão de patrocinador, desde a saída do Nestum), e o aumento exponencial dos grupos equipa e da competição que lhes é proporcionada.

Pensar e ajustar, se necessário, os escalões etários e a competição que existe em cada um desses escalões, garantindo igualdade de oportunidades a todos os jogadores, e um crescimento saudável.

Formar treinadores, com boa capacidade técnica, com vontade de aprender e estudar o ensino do jogo, de modo a sermos capazes de formar jogadores “tomadores de decisões”.

Estes são, entre outros, alguns dos desafios que temos pela frente, num trabalho orientado essencialmente para o aumento da qualidade e quantidade dos nossos jogadores.

Um desinvestimento nesta área do râguebi, embora de consequências limitadas no imediato, é um erro enorme e de grande impacto no futuro, para além de um desbaratar todo o investimento feito no passado.

Saibamos construir uma base sólida, a partir da qual seja possível impulsionar o râguebi português!

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