No grande auditório da Gulbenkian, tudo é novo mas é a mesma coisa

Depois de sete meses de obras, um restauro que se quer quase invisível e que foi o maior investimento da fundação desde a construção do Centro de Arte Moderna, faz-se a festa com Berlioz, Strauss, Gershwin e Kubrick.

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O grande auditório renovado Nuno Ferreira Santos
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O grande auditório renovado Nuno Ferreira Santos
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A sala do coro Gulbenkian foi renovada Nuno Ferreira Santos
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Celso Matias, Artur Santos Silva e a administradora da Fundação Calouste Gulbenkian Isabel Mota Nuno Ferreira Santos
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A nova sala de ensaio da orquestra Nuno Ferreira Santos
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Os bastidores de um “edifício que é um ícone da arquitectura moderna” Nuno Ferreira Santos
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Durante as obras: cabinas técnicas Marcia Lessa/Gulbenkian
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Durante as obras: canópia Marcia Lessa/Gulbenkian
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Aspecto geral da sala durante as obras Marcia Lessa/Gulbenkian
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Sala de ensaio da orquestra Marcia Lessa/Gulbenkian
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Plateia desmontada Marcia Lessa/Gulbenkian
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Aspecto lateral dos novos camarotes Marcia Lessa/Gulbenkian

Na plateia, quando a orquestra se desfaz em músicos a tocar cada um para seu lado, o coordenador do programa de obras Celso Matias aproveita o intervalo do ensaio para resumir o que a partir de sábado se revelará ao público: “Tudo isto é novo, mas é a mesma coisa”. A sala parece a mesma, mas ganhou mais espaço nas coxias para se adequar aos regulamentos de segurança, tornou-se mais inclusiva ao respeitar os espectadores com mobilidade reduzida e lá de cima espreitam-nos dois novos camarotes onde antes ficavam os gabinetes de tradução simultânea. As cores brilham mais, porque tudo é novo, mas com o mesmo desenho.

Hoje, a fundação abre as portas aos seus funcionários para assistirem ao concerto da Orquestra Gulbenkian no grande auditório, mas também mostra o filme do cineasta João Mário Grilo sobre os meses de obras (que no dia seguinte passa em sessões contínuas para o público no auditório 3 das 14h às 23h30) – os trabalhos também se encontram documentados em fotografia na exposição Acesso Interdito. Sábado, a partir das 14h, é a festa de reabertura do grande auditório, com entrada livre mas dependente da apresentação de bilhete, para ver o filme-ópera Elektra às 14h, a Orquestra XXI a interpretar a Sinfonia nº 1 de Mahler às 17h, Vem Cantar Gershwin com o Coro Gulbenkian às 19h e, às 21h, a Orquestra Gulbenkian interpreta então Berlioz e Strauss. Às 23h30 começa 2001 – Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick.  

Na sala de ensaios da orquestra, Artur Santos Silva, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, lembrava sorridente a frase de Azeredo Perdigão sobre a versatilidade do grande auditório - “para todos os espectáculos menos o circo”. “Esta sala passa a ter muito mais utilizações”, explica aos jornalistas o presidente da fundação, que vê no futuro da programação mais cinema – e “a Cinemateca será um parceiro incontornável” -, mais artes performativas e mais conferências e eventos para “reflectirmos sobre o nosso tempo”. Um tempo “de crise significativa” em que a cultura foi muito afectada, considera, “era o momento em termos contracíclicos” para investir numa obra que, aos seus olhos, torna a Gulbenkian “uma estrutura cultural mais potente” e que tem um “efeito indutor muito importante”.

Na conversa com os jornalistas, durante a visita guiada aos trabalhos na tarde de quinta-feira, Artur Santos Silva explica que “a fundação desenhou desde o final da década de 1990 uma renovação deste conjunto que envolve a sede, os auditórios, as salas, os jardins e os seus equipamentos”, e o “último passo era esta renovação do grande auditório” – o conjunto de todas estas obras custou “45 milhões de euros nos valores de hoje”, diz, “e o mais significativo foi o investimento no grande auditório”, de 19 milhões de euros, segundo a Lusa, sendo que a única obra na Gulbenkian “que ultrapassou este valor foi a construção do Centro de Arte Moderna”.

"Uma janela aberta para o mundo"

Com a música da orquestra em fundo, percorremos a obra, vislumbrando o esqueleto da fundação. Os bastidores de um “edifício que é um ícone da arquitectura moderna”, “uma lição permanente” que exige a quem trabalha sobre um edifício inaugurado em 1969 e classificado como património nacional desde 2010 “uma atitude muito humilde”. A arquitecta Teresa Nunes da Ponte descreve assim a sua experiência neste projecto que ocupou cerca de 250 trabalhadores e que agora termina.

Celso Matias, o coordenador do programa de obras, explica que os trabalhos se focaram no grande auditório, mas também nas suas áreas adjacentes – a sala do coro, renovada; o subpalco, que ganhou mais um elevador e um monta-cargas que poupará tempo e mãos para levar equipamento para o palco do grande auditório; e a nova sala de ensaios da orquestra, que chegou a ser um espaço que servia de ginásio ao Ballet Gulbenkian e de pequeno espaço de ensaio. “Foi uma aventura muito grande realizá-la em tempo recorde”, admite.

E o maior desafio de Teresa Nunes da Ponte foi mesmo fazer uma intervenção invisível, “porque estamos num edifício de uma grande qualidade. O projecto [de intervenção para restauro] é muito conservador, apesar de termos tido uma intervenção com contemporaneidade”, frisa, tudo no seguimento do que já tinha sido delineado por Alberto Pessoa, Pedro Cid e Rui d’Athouguia nos anos 1960. “Restauro e renovação”, resume Celso Matias. Os mesmos tipos de madeira, novo ar condicionado, iluminação e tecnologia audiovisual de transmissão e captação para abrir ainda mais a janela que Artur Santos Silva quer que seja esta nova velha sala – “que o que se passa no grande auditório seja de todos, uma janela aberta para o mundo”.

Desde Outubro de 2011, explica Teresa Nunes da Ponte, houve tempo para planear, para estudar outros espaços e obras semelhantes no estrangeiro, e para encontrar os mesmos fornecedores das alcatifas e dos estofos, por exemplo. E também para colocar uma faixa de madeira frente ao palco e de reduzir o peso da canópia, o baldaquino que paira sobre a orquestra e que antes tinha 15 toneladas e agora pesa menos de cinco. Até a madeira dessa estrutura acústica, agora com um desenho contemporâneo, é o mesmo freixo. Mas o facto de estar dividida em seis módulos horizontais permite não só a passagem de 21 varas técnicas para que circulem projectores em cena, por exemplo, mas que a acústica tenha também “melhorado significativamente”, diz a arquitecta.

A obra teve o acompanhamento dos consultores técnicos de cena da Arup Venue Consulting (que trabalhou nas óperas de Copenhaga e de Sydney), que confirmaram à fundação que na acústica houve “melhorias tanto para a [música de] orquestra quanto para a música amplificada”. Os mesmos, diz Celso Matias, confirmam que o grande auditório da Gulbenkian está agora “ao nível dos melhores da Europa”.

Versão corrigida a 14/2/2014: precisa o valor da intervenção no auditório.

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