Stolen Books: os livros desta editora nunca serão best-sellers

Editora independente de Lisboa publica projectos visuais na forma de livros. “Estes livros não nasceriam no contexto actual de publicação", diz Luís Alegre

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Unpacking - José Maçãs de Carvalho

“Publicamos trabalhos cuja ausência constitui uma ofensa para o mercado internacional de livros” — é assim que a nova editora se apresenta no seu próprio site. A Stolen Books dedica-se às temáticas predominantemente visuais, com livros sobre fotografia, artes plásticas e ilustração para os nichos de mercado. Uma aposta ambiciosa que Luís Alegre, o impulsionador deste projecto, explica mais detalhadamente ao P3: “Estes livros não nasceriam no contexto actual de publicação". São obras que não nasceram para serem “best sellers”. 

Na Stolen Books, há uma preocupação com o próprio livro e não com a massificação, com a venda rápida. "Hoje a lógica dos livros é essa: como há muita gente a publicar, os livros têm muito pouco espaço nas livrarias e têm de fazer sucesso muito rapidamente ou serão substituídos por outros”.

Ganhou forma enquanto editora apenas em 2013 mas a ideia surgiu há alguns anos em jeito de brincadeira. Quando fazia a sua tese de doutoramento sobre a apropriação e a cópia na arte e no design, Luís Alegre usou documentos e a literatura que arranjava na Internet e colocou-os numa pasta a que chamou “Stolen Books”. Inventava também as capas dos livros e associava-lhes uma imagem do Mancha Negra, conhecido personagem do mundo Disney.

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[No Audio] - Luís Alegre

A marca ficou parada até ao ano passado, quando Luís Alegre começou a criar — por mera diversão — as imagens contidas no livro [No Audio]. As ilustrações do livro constituem uma representação muito simples e têm por base fotografias de vários universos, desde filmes de Hitchcock e Godard à publicidade dos anos 50, com frases quase como legendas, que são passagens de livros e foram descontextualizadas de forma arbitrária.

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Grey Matter - Miguel Palma

Foi colocando as fotografias no Instagram e os seus seguidores perguntavam-lhe como podiam ter estas imagens — daí surgiu a ideia de autopublicar um livro, em Maio de 2013. “Hoje em dia para se poder publicar tem de ser uma editora para lhe reconhecer o mérito. Mas a mim isso não me perturba. Com a auto-publicação gozo de uma enorme liberdade para poder fazer aquilo que me apetece. Os livros são mais cuidados do ponto de vista gráfico dos materiais”.

A Stolen Books é uma marca da Ideias Com Peso, um atelier de design de comunicação, com uma forte componente editorial que trata da imagem e grafismo de editoras mais conhecidas, como as do grupo Leya. Reúnem-se assim no mesmo espaço, com as mesmas pessoas, os livros mais “underground” e os mais didácticos, duas formas de criação tão diferentes, mas tão complementares: “Juntamos o institucional ao experimental. Vamos desde os livros mais underground até aos mais didácticos.”

Até porque trabalhar fora desta contingência dos grupos editoriais pode ser saudável: “as grandes tiragens no caso dos materiais escolares por exemplo, são de grande responsabilidade. Por vezes também gostamos de experimentar, pensar fora da caixa. A experiência e a experimentação da Stolen Books é complementar e pode ser produtiva para outros trabalhos.”

Enquanto publicava o seu próprio livro, a primeira obra editada pela então oficial Stolen Books, os amigos, colegas e conhecidos ligados às artes visuais foram demonstrando interesse em associar-se à mini-editora para publicar desta forma. Os livros “Grey Matter”, de Miguel Palma e “Red Label” dos irmãos TOYZE foram publicados em Outubro e Novembro de 2013, respectivamente. Para breve estão os livros do fotógrafo José Maçãs de Carvalho e dos artistas Alice Geirinhas e João Fonte Santa.

A maioria das editoras mais conhecidas e de distribuição “mainstream” não apostaria em publicações desde género. “Não são nem visam ser “best-sellers”. Destinam-se a um nicho de mercado, para além de que dificilmente se enriquece com uma coisa destas. Não é um negócio para fazer dinheiro a curto prazo, ele apenas se paga a si próprio”, esclarece Luís Alegre.

Daí que seja conveniente o pequeno número de exemplares que cada edição tem (máximo de 300 exemplares por livro). Impressões reduzidas constituem um menor investimento quando a procura é limitada: “Temos consciência de quem é o nosso público e do momento em que estamos a viver. Se calhar há cinco anos editava 1000 livros. Hoje há menos gente interessada em comprar”.

Mesmo com a crise e com a própria natureza deste pequeno mercado, continua a haver pessoas interessadas no momento presente. Mas é no futuro que as publicações poderão ter grande valor comercial, exactamente por serem de edições muito limitadas, e por isso mesmo raras — há uma possibilidade de "rentabilidade futura" do projecto, o que mostra que, no que toca a livros, “há espaço para todos os tipos de negócio”.

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