A criação de negócios próprios e o acesso a micro-créditos há muito que são vistos como a grande alavanca da economia de países em desenvolvimento. Hoje, países do “primeiro mundo” seguem cada vez mais o mesmo caminho e Portugal não é excepção. Não considero que devamos esperar eternamente por um Estado Social que trate de relançar a produtividade que há em nós mas, quando vejo o empreendedorismo jovem surgir como fuga desenfreada ao desemprego, acciono o alarme.
Um diploma não basta, seja de licenciatura ou mestrado, pós-graduação ou qualquer outro título académico. Agora, a educação não formal torna-se currículo obrigatório – seja por via do voluntariado, associativismo, blogues pessoais ou até de viagens. Contudo, a corrida ao sucesso tem ganho novos contornos e o ser-se empreendedor passa a ser quase a fórmula mágica. A ideia de que não se nasce empreendedor parece ser unânime, mas a crença de que “qualquer um pode sê-lo” também parece ser facilmente aceite e consensual.
O desemprego jovem em Portugal atingiu os 36.8% em Novembro de 2013. Um cenário dramático mas considerado “ideal” para estimular a veia inovadora de muitos. Programas como o Impulso Jovem, que serve de incentivo ao empreendedorismo e à criação do próprio emprego, aliviam a carga burocrática e eliminam muitas barreiras inerentes ao risco inicial. Cai-se facilmente na ideia imaginária de que o empreendedorismo é a solução para o desemprego (em particular o da geração jovem). Rui Baptista, professor de Empreendedorismo Internacional na Brunel Business School em Londres, explica que o elevado desemprego desta geração leva a que tantos vejam o empreendedorismo como uma solução alternativa.
Nos países em desenvolvimento, a percepção de que o microfinanciamento tem vindo a descarrilar é uma opinião tida já por líderes e especialistas da área. É frequente que os negócios desenvolvidos não se tornam geradores de desenvolvimento sustentável nem de redução da pobreza. Qual a correlação com Portugal? Rui Baptista esclarece. “O ‘empreendedorismo de subsistência ou de necessidade’, que se assume como a única alternativa viável ao emprego, tem um impacte económico muito baixo “porque se trata de empresas que não vão crescer e que não vão criar emprego”. A faixa etária entre os 25 e os 34 anos é a que reúne mais empreendedores, e em 2013 as novas empresas envolveram cerca de 46.256 empreendedores (segundo a Informa D&B). Mas o ser-se inovador, o saber aproveitar oportunidades e correr riscos não é suficiente. Na criação de negócios próprios com sucesso e de longa vida, não está à venda o “tamanho único”.
Não se pretende cortar caminhos nem incentivos. Menos ainda se pretende arrasar com a capacidade de sonhar e de dar a volta dos portugueses nesta época de tamanho aperto. Contudo, Saif Mohammad Moinul Islam, coordenador da Care Banglasdesh afirma, e bem – “Para dar poder ('empower'), é preciso primeiro trabalhar no contexto e depois no individual.” E é neste ponto que, enquanto jovem, levanto a voz. As repercussões da crise podem reanimar nas novas gerações um sentido de risco e de criatividade adormecidos. Porém quando parte de uma economia e de uma taxa de empregabilidade jovem se tornam refém da ebulição de novos negócios individuais, a visão enturva-se.