Extensão da trégua em Homs alivia cepticismo que rodeia negociações entre sírios em Genebra

ONU e Crescente Vermelho conseguiram retirar mais 300 civis da Cidade Velha. Cessar-fogo vai vigorar até quarta-feira

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Civis deixam os bairros cercados de Homs, devastados por meses de cerco Thaer Al Khalidiya/Reuters
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A maioria dos que saíram são mulheres e crianças Yazan Homsy/AFP
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Voluntários do Crescente Vermelho brincam com algumas das crianças resgatadas aos combates Sana/Reuters

O último grupo de civis – que se soma aos 700 retirados nos três dias anteriores – saiu da Cidade Velha a meio da tarde, sem notícias de incidentes. Valerie Amos, coordenadora humanitária da ONU, revelou que o governador de Homs e os líderes dos rebeldes na zona aceitaram que o cessar-fogo, que tinha expirado domingo, vigore até quarta-feira, num sinal de esperança para as centenas de civis que ali continuam (a ONU calculava que na zona estivessem entre 2500 a 3000 pessoas).

Pela primeira vez desde o início do cerco, a ONU e o Crescente Vermelho foram autorizados a entrar no bairro, para retirar os civis e levar ajuda de emergência para os que recusam sair ou não podem fazê-lo. Mas no fim-de-semana, cada viagem foi uma aventura arriscada.

Sexta-feira, um homem foi baleado no estômago quando tentava sair do bairro. No dia seguinte, os jipes da ONU foram directamente visados por disparos, que feriram um motorista, e no domingo vários grupos de civis foram alvejados quando se dirigiam aos locais onde seriam recolhidos. Um vídeo colocado online por activistas mostra dezenas de pessoas, incluindo mulheres e crianças, a sair a pé do bairro, entre duas filas de jipes da ONU. A certa altura ouvem-se disparos e, na confusão, muitos deixam as malas e os feridos para trás.

O regime e os rebeldes acusaram-se pelas violações da trégua na qual as Nações Unidas depositaram as suas esperanças – com as negociações políticas bloqueadas, os entendimentos locais são vistos como a única forma de aliviar o sofrimento de 250 mil sírios cercados pelos combates e lançar as bases para um diálogo entre as duas partes. “Homs não foi nada encorajador”, admitiu à Reuters um diplomata ocidental, culpando o regime pelos disparos que, em três dias, terão matado 14 pessoas na cidade.

O ministro francês dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, anunciou que iria apresentar ao Conselho de Segurança uma proposta de resolução exigindo o “levantamento imediato dos cercos” e o livre acesso das organizações humanitárias às populações sitiadas. Mas a Rússia já anunciou a sua oposição ao texto, onde se exige também o fim dos ataques a zonas residenciais, incluindo com “barris de explosivos”, e se lembra que a protecção da população “cabe em primeiro lugar às autoridades sírias”.

Mas se do terreno surgem razões para algum optimismo, em Genebra é de cepticismo – ou “conversa de surdos” – que se fala novamente. E de pouco valeu o documento que o enviado especial da ONU, Lakhdar Brahimi, entregou às duas delegações, pedindo-lhes um “compromisso forte” com as negociações e propondo que se discutisse “em paralelo” o fim da violência (exigência de Damasco) e a criação de um governo interino (prioridade da oposição).

Walid Muallem, o chefe da diplomacia que encabeça a delegação do Governo, chegou a Genebra exigindo à ONU uma “condenação clara” do ataque, no domingo, de jihadistas a uma aldeia alauita (seita do ramo xiita, a que pertence a elite do regime) na província de Hama (Centro) – o regime sírio fala na execução de 41 civis, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos disse que 25 pessoas, na maioria das milícias pró-governamentais, foram mortas. Por seu lado, a oposição apresentou a Brahimi um relatório em que acusa Damasco pela morte de 1800 pessoas desde o início das negociações, a 22 de Janeiro. Para os próximos dias não estão previstas negociações directas e, sexta-feira, Brahimi encontra-se com responsáveis da diplomacia da Rússia e dos EUA, para discutir formas de pressionar as duas partes a um consenso.

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