Fosun compromete-se a ficar na Caixa Seguros "a longo prazo"
Foi assinado nesta sexta-feira o contrato de venda directa da Caixa Seguros à sociedade de capital de risco chinesa Fosun.
Com a compra de 80% da Fidelidade, da Multicare e da Cares pelo grupo chinês, o Estado totalizou um encaixe de 1209 milhões de euros, em resultado da distribuição prévia de dividendos no valor de 208,9 milhões de euros. As receitas com esta privatização vão chegar, no entanto, a 1264 milhões de euros, já que outros 55 milhões serão arrecadados com a oferta pública de venda de 5% da Fidelidade, destinada aos trabalhadores. Se a procura não abranger a totalidade da oferta, as acções que restarem serão entregues à Fosun.
Guo Guangchang, administrador da Fosun, afirmou esta sexta-feira, no Ministério das Finanças, que a concretização desta cooperação entre Portugal e a China será “o primeiro passo significativo para a internacionalização da actividade seguradora da Fosun”. Em Portugal, a Fidelidade, a Multicare e a Cares representam 30% do mercado segurador.
Durante a cerimónia José de Matos, presidente executivo da CGD, explicou que, com a cedência do controlo accionista da Caixa Seguros, a instituição bancária fortalecerá a sua solvabilidade para cumprir as novas regras europeias para o sector da banca e assim poderá “continuar a apoiar a economia nacional”. O responsável garantiu ainda que o grupo “assumirá as suas responsabilidades no sector segurador, nomeadamente com o novo accionista maioritário”.
José de Matos afirmou que esta parceria “tem potencialidade para ser estendida a outras áreas de actividade, dentro e fora de Portugal”. Esta ideia é partilhada por Guo Guangchang, que pretende criar sinergias com a Peak Reinsurance e com a Yong’na P&C Insurance (participadas da Fosun). O objectivo é “alcançar um rápido desenvolvimento do negócio pelo mundo, especialmente na comunidade de países de língua portuguesa”.
O administrador da Fosun não quis comprometer-se com a longevidade do investimento na seguradora, mas garantiu que “esta cooperação será sem dúvida estável e de longo-prazo”. A garantia dada pelo investidor chinês, de que se manteria no capital da Caixa Seguros durante dez anos (quando a exigência era de quatro), terá sido um dos factores que pesou na escolha do Governo.
A Fosun ganhou a corrida a esta privatização em Janeiro, depois de ter afastado a private equity norte-americana Apollo, na disputa da fase final do concurso de venda directa da maioria do capital da Caixa Seguros. Tal como obriga a lei-quadro das privatizações, foi nomeada pelo Governo uma comissão para acompanhar o processo, composta por José Manuel Costa, Diogo Leite Campos e Jorge Vasconcelos.
Fosun é "o parceiro indicado", diz ministra das Finanças
Maria Luís Albuquerque, ministra das finanças, considerou que esta privatização é mais um passo para o sucesso da “dinamização da economia portuguesa”, afirmando que além de dar cumprimento a mais uma medida do memorando de entendimento assinado com a troika, permite também “atrair capital e investimento estrangeiro”.
“Esta operação beneficia sobretudo a CGD”, afirmou a ministra, explicando que o grupo pode agora canalizar recursos e poupanças para a recuperação da economia portuguesa “concedendo crédito à actividade produtiva”. A governante acrescentou que seriam privilegiados os sectores de bens e serviços transaccionáveis, o apoio às exportações e à internacionalização de empresas portuguesas, bem como a promoção da capitalização, em particular, das pequenas e médias empresas.
Com este negócio a CGD estabiliza o seu rácio de capital, passando de 7,4 para 9,1%, ultrapassando assim o valor mínimo de 9% definido pela Autoridade Bancária Europeia (EBA). A variação positiva no rácio core tier 1 deixa a instituição bancária “numa situação de conforto, confirmando a sua posição de pilar de estabilidade do sistema bancário português”.
Maria Luís Albuquerque reavivou a preferência dada pelo executivo ao grupo chinês Fosun, como sendo “o parceiro indicado” para a CGD na área seguradora, tendo apresentado a melhor proposta, quer ao nível das condições financeiras, quer na minimização das condicionantes jurídicas, quer na preservação estratégica do grupo.
A internacionalização da Caixa Seguros foi também mencionada pela ministra que realçou a possibilidade de crescimento da seguradora em África e na Ásia, especialmente na China.