O mar já lambe as torres de Ofir, mas não há risco iminente para quem aqui vive
Passeio que separa edifícios da praia cedeu, mas a estrutura dos prédios não está em risco, garante a Câmara de Esposende.
Abrigada da mole de jornalistas que se juntou no Café Conchinha a olhar para um mar tempestuoso, e protegida das rajadas de vento que fustigavam esta tarde o litoral de Esposende, Maria Vale, Porteira do edifício C das Torres de Ofir não escondia alguma preocupação pelo que ali levou esta quinta-feira tanta gente. O Atlântico andou a fazer das suas, levou a areia que, “coitados, andaram a pôr aqui no Outono”, mas ela não acredita que as torres estejam para vir abaixo. Nem os proprietários, explica. “Se o senhor visse os apartamentos remodelados, as obras que se fizeram nos espaços comuns, nos últimos anos”.
As torres de Ofir, que um dia o então ministro do Ambiente, José Sócrates, admitiu deitar abaixo, face ao risco de virem a ser engolidas pelo mar, parecem resistir às previsões mais pessimistas. É certo que a dinâmica da costa não pára de surpreender as autoridades; É certo que o esporão que foi colocado a sul destes edifícios tem sido danificado pela ondulação, como assumia o presidente da Câmara, Benjamim Pereira aos jornalistas. Mas, neste momento, o que a autarquia, em conjunto com a Agência Portuguesa do Ambiente, deverá fazer é uma intervenção de reforço estrutural da sapata que suporta o passeio que separa os prédios do areal e, muito provavelmente, uma nova acção de reposição de areias naquela que é uma das mais conhecidas zonas balneares do Norte do Pais.
Enquanto lá fora o mar parece querer crescer a ponto de vir a inundar a esplanadas, uma das fotografias ampliadas que decoram o café Conchinha mostram duas sargaceiras em esforço, a atravessar um extenso areal, ali mesmo. Eram mais de cem metros, recorda Benjamim Pereira, assinalando que todo o litoral de Esposende, e principalmente a norte da foz do Cávado, nas freguesias de Antas, Belinho, Mar e Marinhas, sofreu, nas últimas décadas um processo de erosão que, nalguns casos, transformou areais em praias de seixos rolados.
Em todo o caso, o próprio autarca relativizou a questão das Torres, lembrando que, à época, a sua localização não causou a estranheza que hoje seria normal. Os quase 200 apartamentos existentes nos três edifícios continuam a ser utilizados, maioritariamente como casa de férias dos respectivos proprietários, e Benjamim Pereira nota que agora dificilmente haveria dinheiro para indemnizar tanta gente. E além disso, assinala, fazendo uso da sua formação em engenharia e arquitectura, “se aqui houvesse uma intervenção requalificadora, bem feita, as torres poderiam tornar-se icónicas”.
O vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Alexandre Simões, chegou ao local pelas 17h, inteirou-se, como o vento e chuva lhe permitiu, da situação, e admitiu que terá de preparar, com a autarquia, uma intervenção que não estava prevista no plano nacional para orla costeira. Abafada por casos mais extremos como os do Furadouro e Costa da Caparica, a situação das Torres e da praia de Ofir quase passaria esquecida não fosse o mar, afoito como está, teimar em encher o peito mais do que o habitual. Obrigando o Estado a ocorrer, de Norte a Sul, para preservar as condições de vida das populações que vivem a seus pés.