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EUA e Irlanda, as duas grandes feridas da pedofilia na Igreja Católica

Milhares de crianças foram abusadas durante décadas nos EUA e na Irlanda, perante o silêncio conivente da hierarquia

Estados Unidos

Foi o primeiro, o maior capítulo e um dos mais longos capítulos do escândalo. A primeira condenação de um padre pedófilo aconteceu em 1986 e, na década seguinte, várias outras denúncias chegaram aos tribunais. Mas foi só em 2002 que o caso atingiu proporções nacionais, depois de uma investigação do jornal Boston Globe ter revelado que, durante anos, cinco padres da maior diocese católica dos EUA abusaram sexualmente de dezenas de crianças, com a conivência do bispo Bernard Law, que, a cada denúncia, os transferia de paróquia e silenciava as acusações.

Law resignou ao cargo, a diocese pagou mais de cem milhões de dólares em indemnizações às vítimas, mas a cobertura do caso incentivou milhares de outras vítimas por todo o país a quebrar o silêncio, muitas vezes de décadas.

Os últimos dados de um estudo encomendado pela Conferência Episcopal americana dão conta de 11 mil denúncias de abusos cometidos entre 1950 e 2002, visando 4392 padres (4% do clero americano).

Ainda em 2002, os bispos dos EUA aprovaram uma política de “tolerância zero”, tornando obrigatória a denúncia às autoridades. Mas as associações de vítimas dizem que a cultura de secretismo se mantém e novos casos de abusos e encobrimento continuam a surgir – poucas foram as dioceses que seguiram o exemplo do novo bispo de Boston que, em 2011, divulgou o nome de 159 padres acusados de abusos sexuais.

Irlanda

A dimensão dos abusos reconhecidos por diferentes inquéritos é tão grande no país que houve quem os descrevesse como “o holocausto da Irlanda” – estimativas independentes apontam para mais de dez mil crianças violentadas ao longo de 70 anos.

As primeiras denúncias surgiram na década de 1990, mas foi preciso esperar pelo estalar do escândalo nos EUA e por várias investigações jornalísticas para que a Irlanda – país que tem o catolicismo inscrito na sua Constituição – finalmente acordasse para o terror vivido durante décadas por milhares de crianças. O terror de violações cometidas por padres que a sociedade via como guardiões da moral, mas também da violência a que foram sujeitas as crianças entregues pelo Estado à guarda de instituições católicas.

Em 2009, um relatório encomendado pelo Governo concluiu que os menores eram tratados “mais como prisioneiros e escravos” do que seres humanos, a quem eram impostos castigos rotineiros que podiam passar por espancamentos, abusos sexuais e outras formas de humilhação.

Meses depois, um outro inquérito revelou que durante quatro décadas a Diocese de Dublin ignorou todas as denúncias de pedofilia no seio do clero, protegeu os padres mudando-os de paróquia e impôs o silêncio às vítimas.

Já em 2010, o arcebispo Sean Brady, principal dirigente da Igreja Católica na Irlanda, foi acusado de, décadas antes, ter participado no silenciamento das suspeitas que recaíam sobre um padre pedófilo, o que lhe permitiu continuar os abusos. O escândalo levou o Papa Bento XVI a escrever uma carta aos católicos irlandeses pedindo perdão pelos abusos.

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