Combate ao desperdício de alimentos entra no negócio da indústria

Aumentar os prazos de validade, reduzir o tamanho das embalagens ou aproveitar melhor as matérias-primas são tendências que vão marcar 2014.

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Comprar só o que é necessário passou a fazer parte dos hábitos dos consumidores NUNO FERREIRA SANTOS

A associação que promove a inovação e a internacionalização do sector apresenta, nesta sexta-feira na Maia, as principais tendências mundiais que vão influenciar a forma como a indústria vai conduzir o negócio. Ao PÚBLICO, Isabel Braga da Cruz antecipa que, apesar de muitas das ideias serem uma continuidade de anos anteriores (como a procura de alimentos saudáveis ou a busca dos prazeres mais simples), o contexto económico acaba por se sobrepor. “Uma das tendências centra-se na redução do desperdício, não só numa perspectiva interna da indústria de optimização de processos e recursos mas também numa atitude por parte do consumidor, que tende a desperdiçar menos e a assumir decisões de compra adequadas a este contexto”, explica.

Se antes as embalagens de tamanho familiar ocupavam um lugar central nas prateleiras, agora a oferta inclui pacotes de menor dimensão (meio quilo de açúcar em vez de um quilo, por exemplo). A tendência reflecte-se também na investigação de novas técnicas que permitem aumentar os prazos de validade. Ou na escolha do consumidor: em vez de um quilo de maçãs, por exemplo, compra-se apenas as peças de fruta que se vai, realmente, comer a curto prazo.

Desperdício alimentar
Dados recentes do Projecto de Estudo e Reflexão sobre Desperdício Alimentar mostram que, em Portugal, é desperdiçado um milhão de toneladas de alimentos por ano (o equivalente a 17% da produção total). No mundo, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura estima que o desperdício alimentar nos países industrializados ascende a 1,3 mil milhões de toneladas, o suficiente para alimentar 925 milhões de pessoas que passam fome todos os dias. O assunto está na ordem do dia.

Do lado das empresas, Isabel Braga da Cruz acrescenta que outra preocupação é aproveitar melhor a matéria-prima e “fazer mais com menos”. “As empresas tendem a assumir estratégias de optimização internas e novas soluções estão a emergir para reduzir, reutilizar, recuperar e reciclar”, diz. Um dos exemplos mais recentes é o da fruta desidratada, que permite a utilização de fruta disforme ou que não cumpre o tamanho normalizado.

Na lista das dez tendências, está também a recuperação da confiança: “Os escândalos com a segurança alimentar (por exemplo o problema com a carne de cavalo) fragilizaram a confiança do consumidor”, ilustra a responsável. Para reconquistar a credibilidade, irão usar-se embalagens com informação sobre a origem dos ingredientes ainda mais visível, com recurso a códigos QR (que podem ser lido através de smartphones) ou de rastreabilidade. Isabel Braga da Cruz diz ainda que outra das tendências é o “horizonte proteico”, ou a “oportunidade das proteínas”, numa altura em que o controlo de peso é uma preocupação para os consumidores.  

Dar valor aos prazeres simples da vida e valorizar novos ingredientes, com sabores mais autênticos, também são tendências que vão guiar a indústria. Na lista estão ainda incluídas ideias como a atenção à saúde (mental e física), os novos superalimentos (como o trigo freekeh e a chia), a  redução de sal, açúcar e gordura ou mais ofertas dentro da categoria dos produtores lácteos, como o cogurt (iogurte de leite de coco).

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