Advogado lamenta que investigação no Meco tenha estado parada um mês
Equipa mista, da Polícia Judiciária e da Polícia Marítima, está a dar apoio ao Ministério Público
Contactado pelo PÚBLICO, Parente Ribeiro estranha que tenha sido preciso tanto tempo para a investigação por parte do Ministério Público arrancar: “É estranho que o processo tenha estado parado um mês e só depois de os pais falarem para a comunicação social é que algo aconteceu. Houve um grande desinteresse pela investigação numa fase em que teria sido fundamental a recolha de provas.”
Parente Ribeiro explica que tem estado a preparar “a constituição como assistentes no processo dos pais” e que a entregará na segunda-feira no tribunal. A constituição como assistente permite à vítima ou queixoso actuar como colaborador do Ministério Público e intervir no inquérito e na instrução.
Só depois disso o advogado irá solicitar ao Ministério Público elementos — “E eventualmente uma reunião, que não sei se será concedida” — que permitam perceber que diligências já foram tomadas. E aí se saberá, por exemplo, se algum elemento da polícia — Marítima ou outra — esteve na casa alugada pelos estudantes, em Aiana de Cima (casa de onde partiram, no sábado, 14 de Dezembro, à noite, em direcção ao Meco, a pé e trajados). O advogado diz que já houve pais a serem ouvidos, mas, tanto quanto sabe, alunos não. “O processo está em segredo de justiça”, lembra.
Foi a 21 de Janeiro que a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que o inquérito tinha sido avocado ao procurador da República coordenador do círculo de Almada e que já não estava nas mãos do Ministério Público de Sesimbra, que não chegou a ouvir o sobrevivente.
Nesta quinta-feira a PGR acrescentou que o Ministério Público está a ser “coadjuvado por uma equipa mista, constituída por elementos da Polícia Judiciária e da Polícia Marítima”.
A Lusa especifica que foram quatro os familiares dos estudantes que falaram à Polícia Judiciária de Setúbal. Citando fonte ligada ao processo acrescenta que a Judiciária poderá querer também os depoimentos dos elementos da Polícia Marítima, que tiveram o primeiro contacto com o aluno sobrevivente, assim como com residentes da zona onde os estudantes da Universidade Lusófona alugaram uma casa. O sobrevivente deverá também ser ouvido em breve.
Parente Ribeiro está convicto que a tragédia teve origem numa praxe. E remete para a reportagem da TVI desta quarta-feira, em que se faz uma reconstituição de um ritual, que terá sido feito noutras ocasiões, segundo a estação de televisão. Nesse ritual, os praxados fazem prova para continuarem a ser os representantes do seu curso no Conselho de Praxes da Lusófona.
Hora do Diabo
A TVI diz que várias vezes os alunos chegaram a ir para junto ao mar, sempre numa noite de lua cheia, como a da tragédia, para um ritual inspirado na Hora do Diabo de Fernando Pessoa, que passaria por ter o dux a questionar os colegas, de olhos vendados.
A estação de televisão descreveu ainda o teor de algumas listas feitas por alunos que indicam que mais pessoas poderão ter participado no fim-de-semana de 14-15 de Dezembro, organizado pelos elementos do Conselho Oficial da Praxe Académica da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa, do qual faziam parte as vítimas.
Segundo a TVI, Carina Sanchez, uma das jovens arrastadas pelo mar, terá sido incumbida de organizar a logística do fim-de-semana. Numa “lista de materiais” que seriam necessários a aluna escreveu, entre outros, “talheres”. E à frente da palavra “talheres” acrescentou: “Cada um traz de casa (trazer mais 5 a contar com os excelentíssimos).”
Cada aluno, incluindo o dux, João Gouveia, que sobreviveu, tinha uma alcunha. Mas numa lista que também estava nos pertences dos jovens a TVI encontrou mais nomes de código. Nomes que não os das seis vítimas, nem do sobrevivente: “Foca”, “Songoku” e “Mostar”.
A TVI relatou ainda que no dia 12 de Dezembro, quinta-feira, antes da ida para Aiana de Cima, Carina foi às compras e gastou mais de 80 euros. E que foi comprada carne para 12 pessoas.