Alterações climáticas estão a afectar reprodução de pinguins quase em extinção
Investigadores seguiram uma colónia de pinguins-de-Magalhães na costa da Argentina e concluíram que as chuvas torrenciais, cada vez mais frequentes, mataram em média e por ano 6% das crias, durante 27 anos.
Um estudo realizado por dois investigadores norte-americanos e publicado nesta quarta-feira no jornal científico PLOS One, indica que as chuvas torrenciais e as ondas de calor, cada vez mais frequentes e relacionadas, segundo os cientistas, com as alterações climáticas, estão a matar as crias dos pinguins-de-Magalhães, pondo em causa a renovação da população.
Os investigadores analisaram uma comunidade residente em Punta Tombo, na Argentina, na maior zona de acasalamento da espécie. Seguiram 3496 pinguins-de-Magalhães recém-nascidos, entre 1983 e 2010, durante a época de reprodução que vai de Setembro a Fevereiro, para averiguar a sua taxa de sobrevivência. Concluíram que quase dois terços das crias não chegam sequer a abandonar o ninho. E que durante aquele período, houve dois anos (1991 e 1999) em que a causa mais comum de morte foi a chuva torrencial, fatal para 50% a 43% das crias.
Em 27 anos, uma grande parte dos pequenos pinguins (40%) morreu de fome. Mas a falta de alimento e os predadores foram uma constante ao longo dos anos. Os cientistas constataram que nos anos em que houve tempestades registou-se um aumento da mortalidade. O calor extremo também provocou mais mortes, embora os números sejam menos expressivos. Os autores do estudo Alterações Climáticas Aumentam o insucesso na reprodução dos penguins-de-Magalhães concluíram que as mudanças climáticas foram responsáveis por matar uma média anual de 7% das crias.
Como outras aves recém-nascidas, as crias de pinguins são muito vulneráveis às condições climatéricas, sobretudo na primeira semana de vida. Podem morrer de hipotermia, uma vez que demoram algumas semanas a criar a plumagem lisa, densa e gordurosa que os torna resistentes ao frio e à água. As pequenas aves analisadas mostraram ser particularmente susceptíveis entre os nove e os 23 dias de idade, quando são grandes demais para serem protegidas pelos pais mas ainda demasiado jovens para desenvolverem a plumagem.
População a diminuir
"Os pinguins não estavam habituados a ter de lidar com esta variação do clima”, disse ao New York Times o principal autor do estudo, Dee Boersma, professor de biologia da Universidade de Washington. “E certamente não estão habituados a lidar com estas tempestades.” Segundo o investigador, desde 1987, o número de crias na colónia de Punta Tombo diminuiu em 24%, mas é difícil calcular qual a percentagem desse declínio que resulta das tempestades.
“As mudanças climáticas que aumentam a frequência e a intensidade das tempestades traduzem-se no maior insucesso reprodutivo dos pinguins-de-Magalhães”, afirmam os autores do estudo, sublinhando que o mesmo deverá estar a acontecer com outras espécies que procuram aquela zona para se reproduzirem.
Os pinguins-de-Magalhães nidificam na costa da Patagónia, Argentina, Chile e nas ilhas Malvinas. Segundo a descrição da espécie feita na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês), existem cerca de 1,3 milhões de casais mas a população está a diminuir. A espécie está classificada como “quase ameaçada de extinção”. Além das alterações climáticas, da falta de alimento (resultante, em parte, da sobrepesca de anchova, principal alimento na dieta dos pinguins) e dos ataques de predadores, a poluição é outra ameaça. Segundo a IUCN, todos os anos morrem mais de 20 mil adultos e 22 mil juvenis na costa da Argentina, devido à poluição causada pelo petróleo.