Na sua décima edição, as Medalhas de Honra l’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência — uma iniciativa conjunta da l’Oréal Portugal, da Comissão Nacional da UNESCO e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia — vão ser atribuídas mais logo às responsáveis por três projectos: dois na área das doenças humanas e o terceiro na junção da clínica com o ambiente, anunciaram os responsáveis pelo galardão.
O projecto de Inês Gonçalves, 32 anos, investigadora do Instituto de Engenharia Biomédica (INEB) da Universidade do Porto, consiste em desenvolver um novo biomaterial capaz de extirpar a bactéria Helicobacter pylori — cuja persistência no estômago está associada ao cancro gástrico —, podendo assim substituir os actuais tratamentos com antibióticos, nem sempre eficazes.
A ideia desta investigadora é fabricar microesferas a partir de quitosano (a quitina do exoesqueleto da lula) revestidas com açúcares semelhantes aos da parede do estômago aos quais a bactéria se liga para infectar as suas vítimas. Dessa forma, quando administradas por via oral, as microsferas ligar-se-iam às bactérias, que seriam a seguir evacuadas pelo tracto digestivo.
Joana Tavares, 34 anos, do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto, trabalha na área da malária desde o seu doutoramento no Instituto Pasteur, em Paris. Nessa altura mostrou que, numa fase inicial, quando é inoculado no organismo humano pelo mosquito portador, o parasita da malária fica retido nos sinusóides hepáticos (vasos sanguíneos que levam o sangue até à veia central dos lóbulos do fígado), o que acaba por lhe permitir instalar-se no fígado. O objectivo deste projecto é identificar as moléculas responsáveis por esse fenómeno e a seguir interferir com essa etapa da infecção. Por último, a cientista tenciona avaliar se esta estratégia de ataque ao parasita poderia eventualmente dar origem a uma futura vacina contra a doença.
Luísa Neves, 32 anos, cientista da Rede de Química e Tecnologia (Requimte) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, quer saber se é possível reciclar o gás anestésico administrado durante as cirurgias retirando-lhe o dióxido de carbono vindo da respiração da pessoa anestesiada. Para isso, tenciona desenvolver um dispositivo compacto dentro do qual um líquido biocompatível e uma determinada enzima, ao entrarem em contacto com a corrente gasosa contaminada pelo CO2, o irão remover.
Para além de permitir diminuir certos custos hospitalares através da reutilização do gás anestésico, o processo permitiria capturar o CO2, um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global.
O prémio distingue anualmente jovens investigadoras até aos 35 anos cujos projectos são relevantes para a saúde e o ambiente — e cada premiada recebe 20 mil euros de apoio ao seu trabalho futuro. O júri foi presidido por Alexandre Quintanilha, ex-director do IBMC.