Golpada Americana

O primeiro plano, apontado à proeminente barriga de Christian Bale, prenuncia o que a primeira cena confirma e o resto do filme não desmente: “Golpada Americana” é um filme de adereços - barrigas, carecas, penteados e perucas, os caracóis de Bradley Cooper e os decotes de Amy Adams, e por aí fora até Robert de Niro, num “cameo” que o filme trata como um adereço de luxo. E super-adereços, falantes e ambulantes, mais do que realmente personagens, é o que se pede aos actores que sejam, coisa que eles fazem com eficácia, e isto até é um elogio sobretudo no caso do habitualmente tão ostensivo Bale, aqui muito convincente quando se deixa apagar. Tudo faz sentido, porque “Golpada Americana”, filme cheio de “tiques de produção” e de algum modo feito por eles, parece construído, num déjà vu permanente, a partir de muitos bocadinhos de outros filmes, “filmes de época” e “filmes de golpadas”. Claro que o melhor é a personagem de Jennifer Lawrence, a única cujo “problema de actriz” é equivalente ao “problema de personagem”: resistir à “aderecização”. E Lawrence, uma das melhores coisas acontecidas ao cinema americano nos últimos tempos, sai-se bem, trazendo um perfumezinho tennesseewilliamsiano à sua personagem. Pois, pois, mas e o filme? O filme, em linguagem simples e telegráfica, vê-se bem até aos vinte minutos finais, quando se torna uma salganhada e o estilo “tanto faz assim como assado” de Russell se impõe de maneira algo incomodativa.

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