Até que ponto explicar a aura que rodeia filmes clássicos pode ser contraproducente? Por cada objecto fascinante sobre os bastidores de uma produção (Coração das Trevas, o documentário montado a partir do material filmado por Eleanor Coppola durante a rodagem de Apocalypse Now) há outros irrelevantes, supérfluos ou despropositados (a ficção anedótica de Sacha Gervasi sobre as rodagens do Psico de Hitchcock).
"Ao Encontro de Mr. Banks", dirigido pelo mesmo John Lee Hancock que escreveu Um Mundo Perfeito para Clint Eastwood e deu a Sandra Bullock o seu Óscar em Um Sonho Possível, é um perfeito exemplo de um projecto que pouco adianta. Descobrir a (verdadeira) guerra surda que opôs, no início dos anos 1960, Walt Disney à escritora britânica P. L. Travers pelos direitos de adaptação de Mary Poppins corre o risco de tornar mortiça a magia de um filme que encantou gerações. Sobretudo porque tudo se parece reduzir a uma banalíssima história de relações familiares sublimadas: as raízes do livro estariam na infância da escritora com um pai irresponsável, o interesse de Disney no projecto seria também profundamente pessoal. Esquemático na relação simplista causa-e-efeito, anónimo na ilustração certinha do seu guião, ainda assim Ao Encontro de Mr. Banks não é desprovido de interesse no seu olhar sobre o processo criativo.
Mas a principal razão para ver o filme é outra e vale por si só o preço do bilhete: a classe irrepreensível de uma Emma Thompson em estado de graça no papel de P. L. Travers. A sua simples presença é o equivalente da relação entre a escritora e o produtor, resistindo teimosamente às gavetas facilitistas em que o filme tanto a quer enfiar para nos dar uma personagem complexa e fascinante que não se resume a meia-dúzia de chavões freudianos.