Comissão de trabalhadores da Linha Saúde 24 faz balanço positivo da greve

Enfermeiros protestam contra o despedimento e cortes salariais.

Foto
Parte dos trabalhadores que integraram esta disputa não tinha na linha Saúde 24 a sua única fonte de rendimento DANIEL ROCHA

Márcia Silva, membro da comissão informal de trabalhadores, adiantou que mais de metade dos trabalhadores da Linha Saúde 24 aderiu à paragem do atendimento telefónico entre sexta-feira e domingo. “Fazemos um balanço muito positivo. Aderiram ao protesto mais de 50% dos enfermeiros, os cem que foram despedidos, mas também muitos que ainda estão ao serviço”, salientou.

A greve dos enfermeiros da Linha Saúde 24 começou às 16h de sexta-feira e terminou às 8h desta segunda-feira. “Até às 16h de domingo registámos 50% e 60% de adesão, mas no turno das 16h às 0h de domingo tivemos menos pessoas a aderir”, disse.

De acordo com Márcia Silva, dos 55 enfermeiros que deviam ter estado no serviço entre as 16h de domingo e as 0h desta segunda-feira, em Lisboa e no Porto, 28 aderiram à paralisação. “Ainda não temos os números relativos ao turno das 0h às 8h de hoje, mas mesmo assim fazemos um balanço muito positivo da greve”, disse, salientando que os trabalhadores deverão reunir em breve para analisar a paralisação e decidir o que fazer a seguir. Márcia Silva disse ainda que a comissão informal de trabalhadores da Linha Saúde 24 vai estar na Assembleia da República na comissão parlamentar de saúde para explicar a situação aos deputados.

Num comunicado de balanço, a comissão informal diz que “os trabalhadores demonstraram que mesmo perante toda a pressão efectuada pela empresa, não desistem ou baixam os braços. Perante a ameaça individual nos dias da paralisação, os trabalhadores não baixaram os braços e pararam. Mesmo após centenas de trabalhadores serem coagidos e perseguidos para a assinar a adenda de redução salarial, não baixaram os braços e pararam. Mesmo após mais de 100 trabalhadores serem despedidos em retaliação por tomarem uma posição de defesa dos seus direitos e da linha, os trabalhadores pararam”.

A comissão lamenta, ainda, os casos de utentes que ficaram sem atendimento devido à greve, mas justificam que “esta acção visa assegurar o futuro deste serviço e desta linha”, que dizem vir a perder 1000 chamadas diárias devido à linha seguida pela administração. “A administração reduziu em quase um terço o número de profissionais da linha com os seus despedimentos ilegais e não tem resposta aos utentes, apenas considerando inaceitáveis as perdas de chamadas que não são da sua responsabilidade. A empresa terá também de explicar como garantiria a qualidade quando prepara a substituição de enfermeiros com 5 ou mais anos de experiência na linha por enfermeiros com uma formação de 4 dias?”, lê-se na nota enviada ao PÚBLICO.

Os profissionais garantem que não vão compactuar com falsos recibos verdes, “mesmo pagando o pesado peso do despedimento” e acusam o ministro da Saúde, Paulo Macedo, de alternar entre “silêncio cúmplice” e “argumentos sem sentido”.

Na sexta-feira, cerca de uma dezena de enfermeiros protestaram nas galerias do hemiciclo da Assembleia da República após a discussão de projectos de resolução de PCP e BE que visavam a regularização dos trabalhadores da Linha Saúde 24. No passado dia 4, os funcionários tinham parado durante 24 horas, em protesto contra os despedimentos em curso, que consideram ser uma “retaliação clara por parte da empresa por estes trabalhadores não terem aceitado a redução salarial e exigirem um contrato de trabalho em vez do ilegal falso recibo verde”.

O ministro da Saúde, questionado na quinta-feira no Parlamento sobre as complicações laborais na linha, reconheceu que cerca de 200 enfermeiros terão optado por não aceitar a proposta da administração do serviço, mas disse que a qualidade está assegurada e que a linha deve mesmo estender a sua área de atuação.

Em declarações anteriores à Lusa, o administrador da empresa que gere a linha justificou a redução dos pagamentos com a diminuição do montante que o Estado paga à empresa, que este ano será “70% mais baixo do que o valor inicialmente contratado”.