Envio de ajuda humanitária é o objectivo que resta às negociações entre sírios

Não há confirmação que as duas delegações vão estar juntas em Genebra. ONU quer que governo e oposição negoceiem tréguas parciais.

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Crianças em fuga de combates em Deir Ezzor AHMAD ABOUD/AFP

O veterano diplomata argelino admitiu, no final da cimeira internacional que quarta-feira juntou 40 delegações em Montreux, não saber ainda se seria obrigado a servir de mensageiro quando as duas comitivas chegarem, sexta-feira de manhã, a Genebra. Ou se, pelo contrário, conseguiria juntar todos no mesmo espaço para as primeiras negociações directas entre governo e oposição desde o início da revolta contra o Presidente Bashar al-Assad, em Março de 2011. Disse, no entanto, ter “indicações claras” de que os dois lados aceitavam discutir trocas de prisioneiros, tréguas localizadas ou a criação de corredores humanitários nas zonas de combate.

Estas eram condições que a Coligação Nacional Síria (CNS) impôs à sua participação nas negociações e que acabaram por se tornar os únicos objectivos tangíveis, face à constatação de que o regime, após meses de ganhos na frente de batalha e com o apoio tácito da Rússia, recusa discutir o afastamento de Assad. Em troca, lembra que apresentou na semana passada uma proposta de trégua em Alepo, a grande cidade do Norte cuja parte oriental está em poder dos rebeldes.

É ali, mas também em Homs e nos subúrbios a sul de Damasco, que estão alguns dos 250 mil sírios que a ONU diz estarem cercados pelos combates e forçados, em muitos casos a comer erva para não morrer. Há outros 2,5 milhões que só receberam ajuda uma ou duas vezes no último ano. “As negociações políticas podem demorar muito tempo, mas se conseguíssemos um grande impulso para levar ajuda a estas comunidades isso faria uma enorme diferença”, disse à Reuters Valerie Amos, responsável pela ajuda humanitária da ONU, explicando que em Dezembro a organização teve apenas autorização para enviar duas colunas com mantimentos à população síria.

Vários diplomatas disseram que o simples facto de nenhuma das delegações ter abandonado as negociações é um sinal de esperança. Mas a ameaça não só não desapareceu – qualquer incidente pode levar à ruptura dos contactos – como é provável que mesmo passos mínimos, como a declaração de uma trégua, não seja reconhecida pelos muitos grupos que lutam no terreno e não reconhecem à CNS autoridade para negociar em seu nome.

No outro extremo da Suíça, e depois de o seu país ter sido o único dos intervenientes no conflito excluído da cimeira internacional, o Presidente iraniano foi ao Fórum Económico Mundial, em Davos, apresentar a visão de Teerão para resolver uma “catástrofe” que deixou “milhões de inocentes mortos, feridos ou forçados a abandonar as duas casas”.

Adoptando o discurso de Assad, que diz estar em guerra com o terrorismo, Rohani disse que “assassinos cruéis estão a inundar a Síria” e que “o mundo deve unir-se para ajudar a Síria a livrar-se” deles. O seu plano passaria depois por “convencer a oposição a sentar-se à mesa [com o regime] e realizar eleições livres e justas”. “Nenhuma potência pode decidir pelo povo sírio ou pela Síria enquanto país”, afirmou Rohani. O Irão apoia com armas e dinheiro as forças de Assad e a milícia xiita libanesa do Hezbollah, enquanto as monarquias árabes cumprem um igual papel no apoio aos rebeldes, num braço-de-ferro que está a agravar o cariz sectário da guerra, incendiando toda a região.

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