Desigualdades, retoma económica e Síria estão na agenda de Davos

A cimeira que se realiza todos os anos na estância suíça de Davos terá, este ano, a estreia de Dilma Roussef

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ERIC PIERMONT/AFP

De hoje até sábado, cerca de 2500 pessoas vão passar pelos salões onde se cumpre mais uma etapa de Davos, com a Presidente brasileira, Dilma Rousseff, a marcar a sua estreia no mais importante e mediático fórum mundial de discussão dos grandes temas que marcam a actualidade e podem determinar o rumo futuro do mundo.

A situação económica volta a ser um dos pratos fortes de Davos, antevendo, no entanto, Schwab que o tom geral do encontro será "cautelosamente optimista", precisamente porque ainda há muito risco no caminho para uma recuperação completa. Por detrás dos sinais positivos que as economias vão emitindo, mantêm-se dúvidas sobre a força da retoma nalgumas zonas do globo (nos Estados Unidos e no ul da Europa, por exemplo) e começa a preocupar o aprofundamento das desigualdades que o processo de ajustamento económico tem gerado. 

A tecnologia, pela importância crescente que tem no desenvolvimento global, será igualmente um marco importante nos debates de Davos, sendo de realçar a presença de dois dos mais importantes executivos desta área, no caso Eric Schmidt, administrador da Google, e Mellissa Mayer, que é a presidente executiva da Yahoo!.

As alterações climáticas voltarão a ter também um quadro de protagonismo em Davos, do mesmo modo que o fórum retoma o seu gosto pelas grandes questões internacionais, trazendo para os debates o conflito na Síria e os riscos de se alastrar aos países vizinhos.

Dúvidas sobre a retoma
A força da retoma económica, depois de uma crise que trouxe para a ribalta os contornos mais dramáticos da Grande Depressão do início do século passado, será um dos temas em análise, num debate que contará, entre outras, com as presenças de Jack Lew, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, e Mario Draghi, líder do Banco Central Europeu.

O tom “cautelosamente optimista” que Schwab defende tem a ver com o facto de as economias que mais sofreram nos últimos anos estarem a evidenciar uma clara recuperação – na geração de riqueza, na recuperação do emprego, na melhoria da envolvente financeira. Mas o quadro não é ainda totalmente seguro.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a Reserva Federal foi recentemente obrigada a suavizar o seu discurso e os seus timings em relação à retirada progressiva dos estímulos à economia, porque a força da recuperação do emprego não é ainda satisfatória e os impactos no sector financeiro e produtivo poderiam ser dramáticos. Na Europa, a crise da dívida está longe dos contornos mais graves que assumiu, com a Irlanda a dispensar um programa cautelar quando terminou o período de intervenção externa e os juros da dívida soberana em clara queda. Mas há ainda dúvidas em relação a Portugal, Espanha e Itália que pesam sobre os mercados e os Governos.

Desigualdade preocupa
No âmbito da discussão económica, há uma consequência que irá ser chamada ao debate: é a que tem a ver com o aumento das desigualdades entre os mais ricos e os mais pobres, na sequência da crise económica e financeira.

Um relatório publicado anteontem pela organização humanitária Oxfam mostra que as 85 pessoas mais ricas do planeta acumularam um volume de riqueza que é idêntico ao da metade mais pobre da população. A riqueza desta elite multimilionária ascende, segundo a organização, a 1,7 biliões (milhões de milhões) de dólares.

O World Economic Forum sustenta, num trabalho que antecipa o encontro de Davos, que o aprofundamento das desigualdades “é um risco para a estabilidade global” que pode originar sérios problemas na próxima década. Neste âmbito, Jannifer Blanke, economista-chefe do World Economic Forum, chama a atenção para o problema da chamada lost generation, a dos jovens “que sentem que não têm um futuro”.

“Sou um grande apoiante do capitalismo”, afirma David Cole, gestor da Swiss Re, que contribuiu para o trabalho do WEF. “Mas há momentos em que os Governos devem tomar medidas para prevenir excessos em termos de rendimento e distribuição da riqueza”, afirmou à agência Reuters.

Confiança na Internet
As questões tecnológicas e os avanços de um sector cada vez mais importante para a humanidade irão também ocupar uma parte importante dos debates, embora se preveja que o essencial das conversas estará centrado no futuro da Internet. O estudo que antecede o fórum chama a atenção para a crise de desconfiança que se instalou na rede que conseguiu colocar o mundo em contacto permanente. E o caminho que irá ser defendido em Davos será o de criar padrões de segurança, em vez de ir aumentando o número de “jardins cercados por altos muros”, que podem pôr em causa a lógica aberta da Internet.

Síria na balança
Retomando uma tradição que lhe é familiar, a de dar eco aos grande temas políticos do momento, Davos vai querer também “intrometer-se” na questão síria, aproveitando a presença de representantes de países que estão a lidar directamente com a questão, nomeadamente dos Estados Unidos e da Rússia. O processo de paz no Médio Oriente será, também, alvo das atenções dos participantes, aproveitando as presenças do primeiro-ministro israelita, Benjamin Nethanyahu, e do secretário de Estado norte-americano, John Kerry.   
 
 
 
 

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