Wen Jiabao nega ter enriquecido a família enquanto foi 1.º ministro da China
Numa carta publicada num jornal de Hong-Kong, e em resposta a uma investigação de 2012 do New York Times, Wen Jiabao desmente "abuso de poder para ganho pessoal".
“Nunca estive envolvido e nunca me envolverei numa qualquer operação de abuso de poder para ganho pessoal porque ganhos, de que importância forem, não corresponderiam às minhas convicções”, declarou o antigo primeiro-ministro numa carta enviada a Ng Hong-mun, editorialista do diário de Hong-Kong Ming Pao.
“Quero percorrer a derradeira parte da minha viagem na Terra com dignidade. Cheguei a este mundo com as mãos vazias e quero deixar este mundo com as mãos limpas”, acrescentou o ex-governante na carta datada de 27 de Dezembro, de acordo com o editorial publicado neste sábado.
Em Outubro de 2012, o New York Times publicou uma extensa investigação, que calculava em 2,2 mil milhões de dólares (1,7 mil milhões de euros) a fortuna da sua família em 2007. O jornal não identificara no entanto desvios de fundos ou enriquecimento ilícito pelo próprio Wen Jiabao.
Interesses em bancos, joalharias, etc
A sua família tem interesses em bancos, joalharias, investimentos turísticos, companhias de telecomunicações e projectos de infra-estruturas, recorrendo por vezes a entidades off-shore, segundo o New York Times que manteve estas informações apesar dos desmentidos que se seguiram à publicação da investigação.
Ng Hong-mun é um político de Hong-Kong, conhecido pelos seus comentários sobre as relações entre Pequim e o território semi-autónomo devolvido à China em Julho de 1997, e visto como próximo de Wen Jiabao.
A carta do antigo primeiro-ministro que lhe foi enviada é divulgada agora que o novo Presidente chinês Xi Jinping promete lutar contra a corrupção, e incluir nessa luta responsáveis em altos cargos. De acordo com analistas, Wen Jiabao não deverá ter de prestar contas à justiça mas estará provavelmente sob pressão para limpar o seu nome depois das alegações do New York Times.
Willy Lam, um especialista em política chinesa na Universidade de Hong-Kong, considera ser “altamente improvável” que Wen seja acusado: “o motivo principal por detrás dos últimos casos que envolveram altos responsáveis prendia-se com uma luta interna no partido” e Wen Jiabao está actualmente reformado, diz.
Com a investigação sobre a fortuna dos dirigentes chineses, o New York Times ganhou um prémio Pulitzer. O site do jornal na Internet foi pirateado e bloqueado depois da divulgação dos artigos. Ao fim de dez anos no cargo de primeiro-ministro, Wen foi substituído por Li Keqiang em Março de 2013, de acordo com a mudança de liderança habitual na China todos os dez anos.