"Seria uma maravilha poder trabalhar em Portugal"
Daniel Sousa, o português nomeado para os Óscares, falou da importância que Portugal tem para ele e para os seus filmes. O realizador confessa que gostava de ter a oportunidade de fazer trabalhos no país onde cresceu.
Daniel Sousa diz que gostava de trabalhar em Portugal, mas vive em Providence, no Estado de Rhode Island, nos Estados Unidos, país onde se radicou aos 12 anos. Tem agora 39 anos, nasceu em Cabo Verde e passou a infância em Portugal. Estudou animação na Rhode Island School of Design, onde actualmente dá aulas. Com os seus filmes procura explorar a dicotomia inteligência-instintos e abordar temas que definam o ser humano.
Que reacção é que teve quando soube que tinha sido nomeado. Ficou surpreso?
Fiquei muito surpreendido, não estava nada à espera. A surpresa maior foi quando fui nomeado para os dez que ficaram na short list, antes de serem anunciadas as nomeações oficiais. Agora, como só havia dez, já estava mais ou menos na expectativa de chegar aos cinco. Sim, foi uma grande surpresa, estou muito feliz. E agora vamos ver.
O que representa este filme para si?
É um filme em que trabalhei durante muito tempo, por isso representa um período na minha vida que vou sempre lembrar com muito amor nas memórias deste trabalho. Os temas são mais universais. A história de uma criança selvagem e outros temas que o filme explora são expressão daquilo que define o ser humano: qual é a diferença entre os humanos e os animais, e entre a inteligência e os instintos? É uma coisa que tento investigar em todos os filmes que faço.
Quanto tempo demorou a fazer o filme?
Comecei a pensar nele há quase cinco anos, mas tinha outros trabalhos a fazer, e também dou aulas, por isso, não pude trabalhar no filme durante esse tempo. Se me tivesse dedicado só ao filme, demoraria talvez um ano, mas o trabalho prolongou-se por cinco anos.
Qual foi a técnica que utilizou?
É um bocadinho confusa. Fiz os desenhos à mão, mas, através do computador, num programa chamado Flash, o desenho foi depois impresso em papel, tracejado a lápis e devolvido ao computador.
Ainda sente alguma afinidade com Portugal?
Claro. Gostaria de visitar Portugal mais vezes, os meus pais ainda vivem lá e eu tento voltar para os visitar todos os anos, mas a indústria dos trabalhos que faço é nos Estados Unidos. Não sei se há outras oportunidades aí para isso; se houver, seria uma maravilha poder trabalhar em Portugal, mas ainda não encontrei.
De alguma forma a cultura portuguesa influencia ou já influenciou os seus trabalhos?
Sim, eu considero-me português, embora tenha um vocabulário de uma criança de 12 anos, que foi a idade com que vim para os Estados Unidos; por isso, não me consigo expressar muito bem na língua. Não estou muito familiarizado com os filmes portugueses actuais, mas o que me influencia muito são as memórias da minha infância, e isso foi tudo em Portugal. As cores, a atmosfera, a arquitectura, são tudo coisas que me lembro de ver perto de Lisboa e acho que todas elas entraram um pouco no filme que fiz. Por isso, sim, considero a atmosfera de Feral uma atmosfera portuguesa.