Em dia de greve "o negócio não compensa", queixam-se vendedores de jornais
Efeitos da greve do Metropolitano de Lisboa fazem-se sentir nas vendas, diz União das Associações Comerciais e Serviços.
As zonas onde estão localizadas as estações do metro são as mais afectadas em termos de quebra de vendas, reconhece Carla Salsinha, presidente da União das Associações Comerciais e Serviços. “As pessoas acabam por sair mais cedo de casa ou chegam atrasadas ao trabalho por terem de se deslocar a pé”, explica a responsável. Por isso, não param nas lojas para comprar. “As rotinas alteram-se”, acrescenta.
“Da parte da manhã quase não trabalhámos”, revela Moahmed, enquanto organiza os jornais na banca de um dos quiosques situados no Marquês de Pombal.
“Quando há greve, o metro está fechado, ninguém passa por cá, toda a gente vai a caminho do trabalho, e não há venda de jornais”, lamenta Laklam Megi, proprietário do quiosque junto à estação de Picoas. “Recebemos 15 ou 20 jornais, mas só vendemos três ou quatro.” Além disso, a quebra também se verifica na venda de pastilhas e de tabaco.
Também Carlos Pinto, proprietário de um quiosque junto à estação do Saldanha, se queixa: “Quem não passa de manhã para comprar o jornal, já não volta de tarde. Logo num dia de greve facturo metade comparativamente a um dia normal”, informa, acrescentando que pode ter um prejuízo de 300 a 400 euros. “Pelo menos aqui no Saldanha, num dia de greve, mais valia estar em casa, porque o negócio não compensa”, sublinha.
Para este comerciante, as pessoas deveriam revoltar-se contra estas greves, optando, por exemplo, por não pagar o passe durante um mês. Carlos Pinto acredita que os únicos que beneficiam com a greve no Metropolitano são os taxistas.
Sem efeitos negativos
Apesar das perturbações provocadas pela greve, há quem não sinta os seus efeitos. Paulo Dias, dono do café Teles, junto ao metro de Picoas, defende que “não há efeitos negativos porque as pessoas ou vêm a pé ou acabam por se deslocar em transporte próprio e tomam o pequeno-almoço aqui”. No que se refere aos seus funcionários, o proprietário “desculpa-os” por chegarem um pouco mais e isso “não se reflecte em termos salariais”, assegura.
Também a proprietária do quiosque junto ao metro do Saldanha, Leonilde Malhão, não sente os efeitos da greve. “Não noto quebras nas vendas, porque as pessoas andam mais a pé e acabam por passar e comprar.” Essas sentem-se em dias de chuva. “Ontem perdi mais por causa da chuva”, sublinha.
Esta quinta-feira foi o segundo dia de greve parcial, que teve início no passado dia 9 e vai continuar na próxima quinta-feira, dia 23. Em causa estão as medidas inscritas no Orçamento do Estado para este ano, nomeadamente o agravamento das reduções remuneratórias no Estado e a suspensão dos complementos de reforma. Além disso, os trabalhadores protestam contra a nova lei das empresas públicas, que os equipará a funcionários públicos em termos do pagamento do subsídio de refeição, trabalho nocturno e suplementar e ajudas de custo. Os sindicatos contestam ainda os planos do Governo para concessionar as empresas públicas de transportes a privados, que se pretende que aconteça em 2014.