É um bocadinho estranho o sentimento de pertença, o dizermos e sentirmos, principalmente o sentirmos, que algo ou alguém é nosso. Neste caso o alguém, porque é de alguém que hoje se fala, é alguém que hoje é de muita gente. Mesmo muita gente, gente que se orgulha porque o orgulho, esse, também é uma coisa muito nossa.

Hoje à saída do trabalho, despedidas aqui e ali e ouvi "vá lá menina e que ganhe o nosso Cristiano!" E é este nosso, com tanto peso e tanta força que nem sempre é fácil de entender, por muito automático que seja o sentimento. Não é fácil entender porque é que torcemos tanto, porque é que nos sentimos atacados quando o atacam a ele, porque é que também aqui as lágrimas nos correm em dias como este.

Temos os nossos amigos, a nossa família, os nossos qualquer-coisa quando lidamos com pessoas, e todos são nossos porque os conquistámos de alguma forma, porque algo nos liga directamente a eles e, para o bem e para o mal, tornaram-se nossos, independentemente das consequências que isso tem. Com quem nunca trocámos uma palavra, é bem diferente.

O Cristiano não é nosso só por ter nascido num mesmo país ou falar uma mesma língua que nós. Nem mesmo por ser de facto o melhor jogador do mundo porque isso pouco importaria se não fosse aquilo que ele é e aquilo que nos faz sentir. O Cristiano conquistou-nos a nós. Porque sim, porque nos faz sentir maiores. Por ser razão da união de milhões de pessoas, por nos levar ao peito em cada conquista, por dizê-lo sem reservas em todo o momento. Por sofrer connosco, por lutar connosco, acreditar conosco. Por ser exemplo todos os dias de trabalho e muita luta, por ser o espelho de um país que sonha, luta e também há-de um dia vencer.

A vitória é do Cristiano e um bocadinho de todos nós, porque é nosso este orgulho, é nosso aquele "menino", é nosso este sentir irracional que nos liga a todos neste brio desmedido que é ser-se português. Obrigada, Cristiano.