O FC Porto não resistiu aos 11 Eusébios que estiveram em campo
Benfica fecha primeira volta como líder isolado, após triunfo no Estádio da Luz por 2-0. Rodrigo e Garay foram os autores dos golos num jogo marcado pela homenagem ao "Pantera Negra", falecido há uma semana, e cujo o nome esteve nas camisolas de todos os jogadores “encarnados”.
O FC Porto sempre foi uma das “vítimas” preferidas de Eusébio. Nos 33 jogos em que defrontou os portistas, o "Pantera Negra" marcou 25 golos, ajudando o Benfica a vencer 15 clássicos frente aos portistas. Ontem, uma semana depois da sua morte, Eusébio voltou a entrar em campo, no espírito e nas bocas dos adeptos e nas costas dos jogadores “encarnados” para levar o Benfica a um triunfo por 2-0 sobre o FC Porto e a terminar a primeira volta como líder isolado da Liga portuguesa. Os “encarnados” ficam agora sozinhos na frente, com 36 pontos, mais dois que o Sporting e mais três que a formação portista.
O nome de Eusébio, símbolo benfiquista mas também do futebol português, era omnipresente. Nas cartolinas vermelhas e brancas exibidas nas bancadas da Luz, nas bandeiras e faixas exibidas, no minuto de silêncio que antecedeu o jogo, respeitado quase a 100% como era o desejo da família. Depois, o pontapé de saída para mais um clássico, aquele que poderia desempatar ou manter tudo empatado. A carga emocional poderia funcionar de duas maneiras. Poderia alimentar o Benfica para uma vitória convincente, ou poderia toldar a movimentação "encarnada" pela pressão da homenagem, que o FC Porto poderia aproveitar.
Desde o primeiro minuto se percebeu que a arma emocional iria funcionar a favor do Benfica. Mais confiantes e agressivos, os jogadores benfiquistas assumiram o controlo do jogo em todos os aspectos, desde a baliza (Oblak em vez de Artur) até ao ataque com dois avançados, onde Rodrigo fez dupla com Lima, depois das dúvidas quanto à sua disponibilidade física (Gaitán, que estava em dúvida, também foi titular). Do lado portista, já se sabia que Ricardo Quaresma não iria ser titular e foi o que aconteceu. Paulo Fonseca, a cumprir o seu primeiro clássico no banco portista, apostou no plano habitual, Jackson apoiado por Licá e Varela nos flancos, com Carlos Eduardo um pouco mais atrás e Lucho ao lado de Fernando.
Mais do que cauteloso, o FC Porto parecia propenso a erros defensivos pouco habituais, culpa da pressão benfiquista, mas também de um nervosismo não muito vulgar. Otamendi, de volta ao eixo da defesa, era um buraco e disso se aproveitaram os jogadores benfiquistas. Logo aos 13’, o Benfica concretizou o seu domínio em golos. Perda de bola a meio-campo, jogada fantástica de Markovic, que coloca a bola nos pés de Rodrigo, que aparece na área e bate Helton. Golo com dedicatória, pois claro, e enorme festa na Luz.
Foi um golo praticamente na primeira oportunidade e, na verdade, não houve muitas mais durante a primeira parte, mas era uma vantagem indiscutível para a formação de Jorge Jesus. Só no último minuto é que Jackson (em posição irregular) apareceu na pequena área a responder a um cruzamento de Licá, mas a bola saiu ao lado.
Depois do intervalo, o jogo subiu de intensidade e o FC Porto acompanhou essa subida.
Um livre de Carlos Eduardo, aos 49’, levou algum perigo à baliza de Oblak e, aos 51’, Helton defende para canto um remate de Markovic, após grande jogada de Rodrigo. Depois, o primeiro lance polémico do jogo. Na sequência desse canto, Matic cabeceia e Mangala desvia com as mãos. Ficou um penálti por assinalar, mas, no instante seguinte, foi Garay a fazer o 2-0, após canto de Enzo Pérez.
Ricardo Quaresma já estava pronto para entrar e Paulo Fonseca manteve esta ideia. O extremo já não fazia um jogo competitivo desde Maio e seria a primeira arma lançada para tentar dar a volta ao jogo. Entrou com vontade (viu um cartão amarelo três minutos depois de ter entrado) e tentou muito os duelos individuais. Perdeu-os quase todos, mas mostrou-se inconformado. E fez um passe que podia ter dado alguma coisa, mas a jogada foi interrompida pelo árbitro por uma falta sobre Quaresma no meio-campo quando a bola já estava nos pés de Jackson à entrada da área e sem oposição.
Soares Dias voltou a ser protagonista pela negativa em mais alguns lances, como na expulsão de Danilo aos 74’, mostrando-lhe o segundo amarelo por entender que houve simulação de penálti (não havia falta, mas também não houve simulação de penálti), ou numa falta de Garay sobre Quaresma na área benfiquista que passou em claro.
Mas nem a irreverência de Quaresma, nem os erros de Artur Soares Dias foram o suficiente para beliscar a vitória indiscutível do Benfica com dez triunfos nos últimos 11 jogos. A subida de forma é evidente e, com esta 100.ª vitória de Jesus no campeonato como técnico “encarnado” (voltou a bater o FC Porto para nesta prova, algo que já não acontecia desde 2009), a equipa que ontem teve 11 Eusébios em campo termina a primeira metade na frente.
A figura do Jogo: Rodrigo
O facto de, jogo após jogo, Rodrigo se ir assumindo como a figura maior do ataque do Benfica é circunstancial porque Cardozo se lesionou e Jorge Jesus, para manter o seu esquema com dois avançados, apostou no jovem hispano-brasileiro de forma mais consistente. E Rodrigo tem respondido de forma irrepreensível. Neste domingo, marcou mais um golo, o seu oitavo da época, e foi sempre o mais perigoso do ataque benfiquista. Este jovem espanhol de origem brasileira que o Benfica foi buscar ao Real Madrid está a tornar-se indispensável e a retirar espaço de manobra a Cardozo que, até há pouco tempo também era visto como indispensável. Se se concretizarem as notícias que dão como provável a sua transferência já em Janeiro, o Benfica perde um avançado móvel, rápido, tecnicista, goleador e que dá tudo em campo. Neste domingo, Rodrigo foi tudo isto.