Em Portugal os noticiários são excessivamente longos, compostos por: misturas de notícias úteis e inúteis, factos relevantes e opiniões redundantes. Muitas vezes, aquilo que se poderia tratar em dois minutos alarga-se pelo dobro e triplo do tempo, sem que com isso, em muitos casos, se acrescente algo de relevante. Qual será a razão de ser disto? Será apenas culpa de quem faz as notícias ou será apenas um hábito cultural geral de "encher chouriços"?
A morte de Eusébio foi uma notícia que todos recebemos com pesar, independentemente de se ser grande apreciador de futebol ou das opções clubísticas. Sempre que desaparece alguém que teve impacto significativo na nossa história, contribuiu para a divulgação de Portugal e que pela sua personalidade humilde despertava simpatia e carinho, é normal ficar a saudade e a tristeza. Eusébio, na minha opinião, merece seguramente o nosso respeito e honra, por tudo o que fez enquanto desportista e pela pessoa simples que foi, mesmo tendo sido apelidado de rei. Mas apesar da importância da personalidade — que é muita —, não se terá exagerado na cobertura jornalística?
Dias depois da morte do rei os noticiários televisivos continuaram a esticar ao máximo as suas peças dedicadas ao tema. Noticiários já excessivamente longos alongam-se ainda mais por isso, ignorando-se os já consideráveis dias de directos e reportagens especiais. Esmifrou-se tanto a notícia que até se criaram as condições para surgirem polémicas, umas previsíveis e outras completamente inventadas.
Felizmente que nos dias correntes existem mais opções de informação para além dos telejornais, modos alternativos onde os leitores e espetacdores podem filtrar a informação, escolhendo o que pretendem consumir. Há jornais e sítios da Internet para todos os gostos, e agora até na televisão por cabo podemos ser os gestores dos nossos canais. No entanto isso custa dinheiro. Quem não pode optar por esses “luxos”, por desconhecimento ou por falta de meios, fica encravado na televisão tradicional.
Em oposição a tudo isso podemos optar por seguir o exemplo desportivo do próprio Eusébio ou então qualquer outra atividade que nos faça sair do sofá. Para além de agradecer a Eusébio pelos feitos desportivos, podemos agora também ficar gratos por ele, ainda que indirectamente, nos incentivar a desligar os excessos da TV e procurar outras formas de informação e entretenimento mais saudáveis para o corpo e a mente.
* A foto acima, de autoria de André Canoa, retrata, segundo o autor, Eusébio num jogo amigável no Campo do Calvário, em Redondo, no Alentejo, diante a formação local, nos anos 80.