Bloco aproxima-se do 3D para as europeias e distancia-se do LIVRE
A pergunta cuja resposta ninguém arrisca é se Carvalho da Silva será candidato. BE não prescinde de candidatura própria e o LIVRE, sozinho ou em convergência, não abre mão de primárias abertas.
João Semedo, líder do BE, reage ao pedido de uma candidatura convergente às europeias feito esta semana pelos promotores do 3D – que inclui, entre outros, Carvalho da Silva, Daniel Oliveira e José Reis –, com o reconhecimento de que há no Manifesto 3D “importantes posições programáticas do BE”. São exemplos a necessidade de travar a austeridade, renegociar a dívida e apostar no Estado social.
Ao PÚBLICO, Semedo distingue o 3D do projecto de partido LIVRE, que tem aos comandos Rui Tavares, eurodeputado eleito pelas listas do BE e que entrou em diferendo com o partido em 2011. “LIVRE e 3D não são a mesma coisa, nem na génese nem nos objectivos”, diz o líder do BE, que dá sinais de poder acolher “uma proposta concreta” do 3D. “O Bloco é o mais bem-sucedido exemplo de agregação de forças de esquerda e, portanto, tudo o que sirva para reunir e juntar forças merece atenção”, diz o líder do partido.
O pedido da comissão coordenadora do 3D, que não integra o ex-secretário-geral da CGTP, inclui, além do BE, o LIVRE, que já ultrapassou as 5000 assinaturas (são necessárias 7500 para dar entrada o pedido de formalização de um partido no Tribunal Constitucional) e pretende realizar o congresso fundador nos dias 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro.
Se o 3D deu nota de que “existe total abertura para encontrar a solução que mais favoreça uma candidatura convergente o mais ampla possível”, há decisões tomadas tanto no Bloco quanto no LIVRE. Tavares já tinha avisado que, sozinho ou em convergência, o novo partido não iria prescindir de eleições primárias abertas para escolher um candidato.
Ontem, ao PÚBLICO, o eurodeputado admitiu que a decisão relativa a um candidato às europeias poderá ter de passar por um referendo interno. Mas, disse, essa não é a questão “essencial”. “No meio das questões tácticas, esquece-se o essencial. O LIVRE nunca foi um partido para as europeias, a questão dos nomes vem em último lugar, até porque, no nosso caso, tem de passar por um processo de eleições primárias abertas”, sublinha Tavares. Nas hostes bloquistas, a convicção neste momento é a de que a “convergência” deve ser tratada com “pinças”, porque continua a não ser claro o que pode acontecer nos próximos meses, quer no LIVRE, quer no 3D.
Factor Carvalho da Silva
A pergunta cuja resposta ninguém arrisca é se Carvalho da Silva vai mesmo ser candidato às europeias. Se no 3D a versão oficial descarta fundar um partido e ter na manga um nome para as europeias, nomeadamente o do ex-secretário-geral da CGTP, à esquerda já se fazem contas. E, nos corredores do BE, circula mesmo a tese de que, se o 3D não avançar como partido e Carvalho da Silva não avançar para as europeias, então o 3D não passará de “mais um apelo à convergência”, que ficará para a história como tantos outros. Se avançar, o Bloco poderá ter de tomar decisões difíceis, já que continua irredutível em ter uma candidatura própria com Marisa Matias, actual eurodeputada, como provável cabeça de lista.
Outro dirigente do BE expressa receio ao afirmar que “há gente que só está à espera de um passo em falso para atirar para cima do Bloco o falhanço do processo de convergência”. Por outro lado, parece difícil um entendimento com Tavares. “Foi eleito nas listas do Bloco e agora ia apoiar um candidato nosso depois de ter rompido connosco?” Além disso, entre as dificuldades apontadas estão, por exemplo, questões europeias. Se o eurodeputado é tido como um entusiasta de uma arquitectura federalista para a União Europeia, há muitos 3D e bloquistas que rejeitam a ideia. Também uma aproximação ao PS, no quadro das próximas legislativas, inspira preocupação ao BE. “Há gente com propósitos muito diferentes neste processo. Um acordo com o PS à medida dos interesses do PS e não propriamente de esquerda conduziria a uma fragmentação do Bloco”, diz outro bloquista.