Polémica faz adiar encontro de diálogo entre religiões no Porto
Centro Interpretativo da Memória Judaica e Cristã-Nova do Porto abriu polémica entre padre católico e rabino da comunidade judaica do Porto.
Um edifício, virado para a Rua de São Miguel, a mais importante do tempo da Judiaria do Porto, foi cedido à paróquia pela câmara em Julho do ano passado. A candidatura apresentada ao Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) foi suspensa por o projecto estar inacabado. O pároco, Agostinho Jardim Moreira, quer relançar o projecto, mas com o apoio dos judeus.
Jardim Moreira iria apresentar o projecto no encontro, agendado para 14 de Janeiro, no Palacete dos Viscondes de Balsemão, onde, “pela primeira vez”, a oração Shemá Israel, a base das religiões monoteístas e abramistas, deveria ser cantada a uma só voz por “responsáveis da Igreja Católica, rabinos e dirigentes de comunidades judaicas portuguesas e bispos das igrejas anglicana e luterana”.
A iniciativa, diz o pároco, tinha a presença confirmada dos líderes judaicos de Lisboa e Belmonte, não do Porto. “Achamos malévolo e maquiavélico que um padre da Igreja Católica, [entidade] que foi responsável pela tragédia da judiaria portuguesa e de uma das épocas mais obscuras da História de Portugal, dirija semelhante projecto”, escreveu o rabino Daniel Litvak, que vive em Israel, mas acompanha a comunidade do Porto, numa carta dirigida à hierarquia católica.
Atendendo a que o objectivo era “promover o Diálogo Inter-Religioso e Inter-Cultural em Portugal, considera-se que este não será o momento mais adequado para a realização do evento anunciado”, esclareceu nesta quinta-feira, em comunicado, a Rede de Judiarias Portuguesas. “Não queremos alimentar guerras”, diz, por sua vez, Jardim Moreira. “A lógica é de diálogo, reconciliação, de paz.”
O padre católico não considera que aquela carta de Daniel Litvak – que compara o projecto do Centro Interpretativo da Memória Judaica e Cristã-Nova do Porto ao “maléfico plano nazi para estabelecer um museu em Praga, em memória de um povo desaparecido, assim que terminassem de implementar a sua ‘solução final’” – seja representativa do sentir dos judeus do Porto. Reitera que não está à venda o edifício no qual está um ehal, um nicho de pedra lavrada onde a comunidade judaica guardava a Torá.