Recuperação do mercado de trabalho depende da criação de emprego

Taxa de desemprego recuou de 17% para 15,5% em Novembro. Economistas alertam que redução da taxa nos últimos nove meses não tem tido reflexos na criação de emprego, pondo em causa a recuperação do mercado de trabalho.

Portugal registou o quarto maior recuo anula da taxa de desemprego entre Novembro de 2012 e 2013, passando de 17% para 15,5%.Este indicador recuou pelo nono mês consecutivo e registou a queda mensal mais pronunciada desde 1988, depois de, em 2012 e ainda em 2013, ter registado a taxas mais elevadas de que há registo.

“Os dados são positivos, mas não devem ser olhados com euforia. Não podemos esquecer que a economia tem agora menos 650 mil postos de trabalho do que no período anterior à crise de 2008”, alerta Francisco Madelino, economista e ex-presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional. Além disso, lembra, o volume de novas inscrições registadas todos os meses pelos centros de emprego (dados que, além das estimativas do Instituto Nacional de Estatística, são tidos em conta pelo Eurostat) estão 10 mil pessoas acima do período anterior à crise.

Também o economista da Universidade do Minho, João Cerejeira, defende que a taxa de emprego “é o elemento principal” a ter em conta na recuperação do mercado de trabalho. E nesse campo, há factores de risco que podem pôr em causa a criação de emprego.

João Cerejeira considera que o principal de risco é assistir-se a uma queda do consumo privado, ao contrário do que são as perspectivas do Governo que aponta para um crescimento de 0,1% e do Banco de Portugal que prevê um incremento de 0,3%. O pessimismo deste economista assenta nos cortes mais pronunciados nos salários dos funcionários públicos e nas pensões. Mas já o investimento poderá comportar-se de forma mais positiva, em resposta à melhora das condições de financiamento da economia.

“Antecipo a manutenção da queda da taxa de desemprego, por via do aumento da inactividade e da emigração, mas duvido da recuperação do emprego”, vaticina em declarações ao PÚBLICO.

A saída de portugueses para o estrangeiro e a passagem de muitos desempregados à situação de inactividade são, para Cerejeira e Madelino, dois factores que determinam a redução da taxa de desemprego nos últimos meses, respondendo de forma muito rápida a taxas de crescimento oda economia inferiores a 1%. É também isso que explica por que razão a melhoria do desemprego não teve reflexos no mercado de trabalho.

Mas não escondem que a melhoria da situação económica (no terceiro trimestre a economia avançou 0,2%) tem permitido criar algum emprego, embora de forma pouco sustentada. Os dados do INE para o mesmo período davam conta da criação de 48 mil postos de trabalho.

O Eurostat dava conta de 824 mil pessoas sem trabalho em Novembro, menos 91 mil do que no ano anterior. No resto da Europa, as maiores descidas verificaram-se na Irlanda (de 14,3% para 12,3%), na Letónia (de 14% para 12% em Setembro) e na Lituânia (de 13% para 11,3). Tal como Portugal estes países contrariaram a ligeira subida anual verificada zona euro (12,1% ) e na União Europeia (10,9%).

O calcanhar de Aquiles continua a ser o desemprego jovem. Embora a taxa tenha recuado face a 2012, voltou a aumentar em Outubro e em Novembro para 36,8%, a quinta mais elevada do espaço europeu.

Para o Governo, a redução da taxa de desemprego em Novembro é um sinal de “confiança e de esperança no futuro”. “São sinais que dão alento para continuarmos a trabalhar na recuperação da economia e a criar possibilidades para descer o desemprego ainda mais”, disse o ministro do Emprego e da Segurança Social, Pedro Mota Soares.

Oposição fala em manipulação

Esta quarta-feira, o PS lançou suspeitas sobre a forma como o Governo está a gerir as inscrições nos centros de emprego, receando que os números estejam a ser manipulados através das políticas activas de emprego. Um grupo de deputados, liderado por Miguel Laranjeiro, deu conta de denúncias de vários desempregados e fez uma pergunta ao Governo a pedir esclarecimentos.

João Oliveira, do PCP, alertou que o Eurostat "não tem em conta o efeito da emigração" nem as pessoas que saem das listas dos centros de emprego, quanto a UGT considera que “os valores atingidos em Portugal são bastante preocupantes” e exigem políticas diferentes “que não se reduzam a medidas de austeridade”. Com Pedro Crisóstomo e Ana Rute Silva
 
 
 

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