Genoma de um tubarão sequenciado pela primeira vez

A primeira descodificação do ADN de um tubarão fornece pistas sobre o sistema imunitário e a formação dos ossos nos vertebrados.

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O ADN do tubarão-elefante escondia surpresas Fir0002/Flagstaffotos

Os tubarões-elefante (Callorhinchus milii) vivem a profundidades de 200 a 500 metros nas águas temperadas ao largo das placas continentais do sul da Austrália e da Nova Zelândia. Os cientistas escolheram-nos entre cerca de mil espécies de peixes cartilaginosos porque o seu genoma é relativamente compacto (tem um terço do tamanho do genoma humano).

Uma das descobertas inesperadas feitas por Byrappa Venkatesh, da Universidade de Singapura, e os seus colegas, foi que o sistema imunitário do tubarão-elefante é mais simples do que o de muitos outros vertebrados. E, em particular, que está desprovido de linfócitos T – aquelas células que são o alvo principal do vírus da sida, que ao destruí-las anula as defesas imunitárias das suas vítimas humanas.

No entanto, as defesas dos tubarões são robustas e estes peixes vivem muitos anos. Como é que isso é possível se lhes faltam células consideradas essenciais para a luta contra vírus e bactérias? “É óbvio que os tubarões são capazes de lidar eficazmente com todo o tipo de infecções sem este tipo particular de células imunitárias”, diz Thomas Boehm, co-autor do Instituto Max Planck de Friburgo (Alemanha), em comunicado da sua instituição. “Isto sugere que a natureza consegue encontrar diferentes soluções para o mesmo problema.” Os novos resultados poderão portanto permitir descobrir abordagens alternativas para reforçar a imunidade nos seres humanos, mesmo na ausência de linfócitos T, especulam os autores.

A análise genética também permitiu identificar uma família de genes essenciais ao desenvolvimento ósseo, que todos os vertebrados como nós possuem mas os tubarões não. E quando os cientistas inactivaram estes genes em peixes-zebra, pequenos peixes dotados de um esqueleto ósseo como tantos outros, estes animais não conseguiram calcificar a cartilagem para a transformar em osso. Os cientistas pensam que este resultado poderá permitir perceber melhor doenças como a osteoporose.

Os peixes cartilaginosos são o mais antigo grupo de vertebrados com maxilares na árvore da evolução, tendo-se separado dos vertebrados com esqueletos ósseos há cerca de 450 milhões de anos. E como o estudo revelou ainda que o genoma do peixe-tubarão evolui mais lentamente do que o de qualquer outro vertebrado, é provável que esta espécie seja a mais parecida, fisicamente, com o antepassado comum a todos os vertebrados com maxilares que vivem ou alguma vez viveram no nosso planeta, explica o mesmo comunicado.
 

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