Eusébio, o Panteão e certas conveniências
Se lá puserem Eusébio não virá mal à Pátria. Mas decidam, de vez, para que serve o Panteão.
Começou já, e era de esperar quer começasse, a campanha para que Eusébio se junte às figuras nacionais sepultadas no Panteão Nacional (designação que a lisboeta Igreja de Santa Engrácia partilha com o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra). O PS apressou-se, o PSD não quis ficar atrás, o CDS idem. PCP e BE estão “receptivos”. Em ano de eleições, uma medida “popular” pode valer atenções populares. Os partidos sabem isso e avançam, destemidos. Mas o que significa Eusébio no Panteão? Melhor: o que significa, para Portugal e para os portugueses, o Panteão? Sabe-se quem lá está, e nem todos são nomes consensuais: a Almeida Garrett, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro, João de Deus, Manuel de Arriaga, Óscar Carmona, Sidónio Pais e Teófilo Braga juntaram-se, mais tarde, Humberto Delgado, Amália Rodrigues e Aquilino Ribeiro. E há uma campanha para que Sophia de Mello Breyner Andresen também para ali seja trasladada. Note-se que D. Nuno Álvares Pereira, o Infante D. Henrique, Pedro Álvares Cabral ou Afonso de Albuquerque “estão” lá, mas apenas em cenotáfios (memoriais fúnebres) porque todos estão sepultados noutro lado. E nomes tão relevantes para a identidade nacional como Luís de Camões, Fernando Pessoa, Vasco da Gama ou Alexandre Herculano estão no Mosteiro dos Jerónimos. Por aqui se vê que nem o Panteão é representativo da chamada “alma nacional”, ao contrário do que muitos pensam, nem todas as figuras que abriga reúnem (ou reunirão, apesar de lá estarem) consenso nacional. Dito isto, Eusébio, como Amália, não apenas reúne consenso como foi durante muitos anos símbolo de Portugal. Não foi presidente, nem político, nem homem de letras. Foi um futebolista, nascido em Moçambique, o maior de Portugal, um dos maiores do mundo. Portugal identifica-se com ele, na hora da sua morte, como se identificou em vida. Se o puserem no Panteão não virá daí nenhum mal à Pátria. Mas decidam, de vez, para que serve o Panteão.