Descoberto o “gatilho” da erupção dos supervulcões
Ao passo que nos vulcões normais é a pressão do magma acumulado que provoca a erupção, no caso dos supervulcões, muito mais explosivos, o mecanismo é diferente.
Os supervulcões não formam grandes cones como os vulcões clássicos. Formam caldeiras – imensas crateras que podem ter 100 quilómetros de diâmetro – tal como a de Yellowstone nos EUA, o lago Toba na Indonésia ou o lago Taupo na Nova Zelândia.
Nos últimos 75 mil anos não tem havido erupções de supervulcões, um dos cataclismos naturais mais devastadores que se conhecem. As explosivas erupções de supervulcões são raras – uma em cada 100 mil anos. Mas a acontecerem, são capazes de cuspir para a atmosfera mais de 1000 quilómetros cúbicos de lava e cinzas de uma só vez, o que seria suficiente, segundo a revista Science, para provocar uma diminuição de 10 graus Celsius da temperatura global da Terra durante uma década.
Já se sabia que as erupções de supervulcões não são desencadeadas, tal como acontece com os outros vulcões, pelo aumento da pressão na câmara magmática subterrânea simplesmente devido à injecção de quantidades cada vez maiores de magma. Isto porque as câmaras magmáticas dos supervulcões são demasiado extensas – podem ter vários quilómetros de profundidade e até 100 quilómetros de largura – para que essa sobrepressão por si só leve à ruptura da crosta terrestre e faça com que o magma chegue à superfície. Para isso acontecer, explica em comunicado o Instituto Federal Suíço de Tecnologia (ESRF) de Zurique, o excesso de pressão na câmara magmática de um supervulcão tem de ser 100 a 400 vezes maior do que a pressão atmosférica.
Os especialistas têm especulado que seria antes a pressão criada pelo magma em fusão, e por isso menos denso, nas rochas circundantes, mais densas, que seria responsável pelo fenómeno explosivo. O magma, tal uma gigantesca bolha cheia de ar a exercer pressão num meio mais viscoso, poderia acabar por fazer explodir a câmara magmática. Só que até aqui ninguém tinha conseguido medir as respectivas densidades do magma e da rocha para confirmar esta hipótese. Foi precisamente isso que fez agora a equipa de Wim Malfait, do ESRF, ao determinar essas densidades simulando no laboratório, em amostras de silicatos submetidos a pressões extremas e altíssimas temperaturas, as condições da câmara magmática de um supervulcão. “O efeito é comparável à impulsão ascendente que se exerce sobre uma bola de futebol cheia de ar debaixo da água, obrigada a subir pela água circundante, que é mais densa”, diz Malfait.
Pelo seu lado, a equipa de Luca Caricchi, da Universidade de Genebra (Suíça), simulou matematicamente mais de um milhão de erupções de supervulcões, explica a revista New Scientist, mostrando que a pressão gerada pela diferença de densidade entre o magma em fusão e a rocha em redor era de facto suficiente para desencadear o fenómeno. A pressão pode contudo demorar centenas de milhões de anos a atingir níveis explosivos.
O facto de se conhecer o “gatilho” destas megaexplosões poderá permitir um dia monitorizar o risco de acontecer uma erupção deste tipo, diz Caricchi, citado pela New Scientist. “Vamos poder, por exemplo, estimar a espessura da massa de magma e determinar se a pressão é potencialmente compatível com uma erupção.”
O modelo utilizado por estes cientistas parece apontar para uma maior frequência deste tipo de eventos do que se pensava até aqui. Mas isso poderá ser devido a limitações da simulação matemática e ainda está por confirmar, refere o cientista.
Seja como for, diz Malfait, as erupções de supervulcões “não são algo com que nos devamos preocupar nas nossas vidas pessoais. Mas enquanto espécie, um dia vamos ter de lidar com o fenómeno”.