Cerca de mil pessoas assistem à recriação da fuga de Álvaro Cunhal da cadeia há 54 anos

Jerónimo de Sousa deseja que Portugal retorne aos valores de Abril e pede luta contra a "brutalidade" dos cortes feitos pelo Governo.

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Adriano Miranda

A tenda instalada ao lado da Fortaleza de Peniche, com mais de trezentos lugares sentados, foi pequena para acolher o público, deixando muita gente em pé no interior e no exterior, a ver ao vivo ou através de televisores a encenação da fuga de Álvaro Cunhal da ex-prisão política, a 3 de Janeiro de 1960.<_o3a_p>

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, foi um dos presentes na iniciativa, que culmina a celebração dos 100 anos do nascimento do fundador do Partido Comunista Português (PCP).<_o3a_p>

"Esta recriação tem uma carga não apenas saudosista ou de memória, significou aquilo que Álvaro escreveu no título do livro "Rumo à vitória". Nunca mais foi a mesma coisa, porque foi um golpe que abalou o fascismo, reforçou o partido e levou a Abril", afirmou, no final, aos jornalistas o secretário-geral comunista.<_o3a_p>

Jerónimo de Sousa disse que recordar a fuga faz "olhar para a frente, procurando que os valores de Abril retornem novamente a Portugal", incitando as "vítimas dos actuais cortes a lutar contra a brutalidade e a injustiça" das políticas do Governo e contra o "esquema que o Governo encontrou de contornar a Constituição da República".<_o3a_p>

O espectáculo repartiu-se entre uma dramatização do plano de fuga, ainda dentro da cadeia, e a encenação da descida das muralhas da antiga prisão pelos diversos panos amarrados entre si, de uma dezena de presos, entre os quais Álvaro Cunhal.<_o3a_p>

O espectáculo precedeu a inauguração, no interior da fortaleza, da exposição "Forte de Peniche - Local de Repressão, Resistência e Luta", que relata a história da prisão política, recordando as normas de funcionamento e vivências dos 2487 presos que por ali passaram e as várias fugas que ocorreram.<_o3a_p>

A mostra dá a conhecer documentação institucional da prisão, fotografias dos presos e outros materiais executados pelos reclusos, como cartas escritas aos familiares, jornais produzidos na clandestinidade.<_o3a_p>

Constam ainda objectos pessoais, como o relógio do falecido ator Rogério Paulo, que auxiliou Álvaro Cunhal na fuga, dois volumes de 'As Farpas', de Ramalho Ortigão, usados para passar mensagens para o interior da prisão.<_o3a_p>

A exposição dá também a conhecer a onda de solidariedade internacional gerada em torno dos presos e que a nível local se traduzia no apoio dado pela comunidade às famílias dos presos, nomeadamente disponibilizando as habitações para aí ficarem alojadas.<_o3a_p>